"Before sunrise" - Título original em inglês.
"Antes do amanhecer" - Título em Português.
Origem: EUA (1995). Linguagem: Inglês.
De: Richard Linklater (realização e argumento).
Com: Ethan Hawke e Julie Delpy.
Fofografia: Lee Daniel.
Direção musical: Fred Frith.
Género: Drama. Romance. 105 minutos. Cor.
Sinopse:
Sinopse:
O jovem turista americano Jesse e a estudante francesa Celine, encontram-se por acaso num comboio de Budapeste para Viena. Jesse convida Celine para passarem o dia juntos em Viena e ela aceita. O tempo vai passando antes do voo marcado para a manhã seguinte. E assim, se estabelece uma ligação especial entre dois estranhos, que sabem que essa será provavelmente a única noite que passarão juntos.
"Before sunset" - Título original em inglês.
"Antes do anoitecer" - Título em Português.
Origem: EUA (2004). Linguagem: Inglês & francês.
De: Richard Linklater (realização e argumento (com Julie Delpy & Ethan Hawk)).
Com: Ethan Hawke e Julie Delpy.
Fofografia: Lee Daniel.
Género: Drama. Romance. 80 minutos. Cor.
Sinopse:
Sinopse:
Afinal Jesse e Celine, voltam a encontra-se nove anos depois, não por acaso, pois ela procura-o numa livraria parisiense, onde ele, agora um escritor famoso, faz a apresentação do seu novo livro, curiosamente sobre o encontro de Viena. Muita coisa se passou, depois da emocionada despedida na estação de Viena, onde prometeram encontrar-se 6 meses depois, o que não aconteceu. Em vez disso, o que aconteceu foi o continuar da vida, com novas relações para ambos. Mas agora sentem-se de novo ligados e ambos desejam passar o dia juntos, em Paris, antes do voo do americano marcado para o fim da tarde. Juntos de novo, com muita coisa a dizer um ao outro, antes do anoitecer...
"Before midnight" - Título original em inglês.
"Antes da meia-noite" - Título em Português.
Origem: EUA (2013). Linguagem: Inglês, francês, grego.
De: Richard Linklater (realização e argumento (com Julie Delpy & Ethan Hawk)).
Com: Ethan Hawke e Julie Delpy.
Fofografia: Christos Voudouris.
Direção musical: Graham Reynolds.
Género: Drama. Romance. 109 minutos. Cor.
Sinopse:
Sinopse:
Quase duas décadas depois do encontro de Jesse e Celine em Viena e nove anos depois do seu reencontro em Paris, descobrimo-los juntos, entradotes, mais gordos e com filhos, na Grécia. Afinal sempre ficaram juntos... E que descobrimos nós, num dia das suas vidas ? Que eles formam um casal normal, com direito a toda a rotina e os altos e baixos da praxe. Incluindo uma séria discussão, em que ambos põem seriamente em causa o seu casamento. Muita coisa pode mudar antes que aquele dia acabe. Tudo pode acabar ou recomeçar antes da meia-noite...
Quando Richard Linklater escreveu e realizou "Before sunrise", em 1995, era suposto ser apenas mais um filme, narrado de uma forma que era particularmente do seu agrado, ou seja, utilizando predominantemente diálogos entre duas personagens, quase em real-time, técnica que viria a revisitar com o denso noir "Tape", de 2001.
E de facto, "Before sunrise", visto assim, livre da companhia dos seus sucessores, impõe-se como um fugaz e delicioso sopro de uma juventude mentalmente inquieta e generosa nas emoções e no amor que experimenta. Nesta fase, o carácter espontâneo dos diálogos, que fluem céleres e vivos das bocas das personagens, são uma expressão de vivências ainda naïves, tudo sendo vivido "sem problema", num processo acelerado de crescimento e amadurecimento, mas ainda bem longe do mundo de responsabilização que se exige aos adultos. E este clima de ingénua dádiva às ideias e à paixão, contagia quem já passou e sentiu o mesmo, nesta fase tão especial da vida.
É por tudo isto, que "Antes de amanhecer", que mostra a doçura incomparável de quando se é jovem e a noite ainda uma criança e se fala do futuro, porque o passado ainda não aconteceu, é um filme que se guarda no rol das nossas gratificantes memórias. Em rigor, é um filme que vale por si mesmo, como um fogacho, de uma juventude em descoberta de si mesma e de um lugar no mundo, e que bom que seria se tudo isto ficasse sossegadamente em suspenso e em aberto e o futuro coubesse todinho naquela despedida...
Postas estas considerações, então o que justificaria uma "sequela"? Excluindo a pouco prosaica mas nada inverossímil mais-valia comercial, neste nosso mundo contemporâneo que privilegia a produção em série, não é despiciendo no âmbito do audiovisual acrescentar o culto de um certo "voyeurismo" sociológico, uma espécie de equivalente ficcionado da série documental britânica "Up", de Michael Apted, que em 1964 começou a fazer entrevistas na altura a crianças de 7 anos e posteriormente, seguindo-as de 7 em 7 anos, indo já os "sobreviventes" nos 56 anos (no oitavo episódio - 56 Up- de 2012). Ora esta análise fará todo o sentido, no terreno do documentário sociológico, em que Apted se move, mas já é bastante discutível no âmbito de uma ficção com as características da obra dramática em discussão.
Nove anos depois, na sequela "Before sunset", de 2004, a Linklater, juntaram-se Delpy e Hawk, na escrita do argumento, como se ambos, quisessem partilhar alguma da sua experiência pessoal e profissional, porque ambos já se movimentavam então na escrita e na realização de filmes.Talvez isto explique alguma coisa sobre este segundo filme, rodado em Paris, a cidade por excelência dos reencontros românticos e "casa" de Julie Delpy.
Neste "Before sunset", são injectadas as primeiras doses de realismo cinéfilo. Afinal os jovens, tinham era garganta e a tesão de ocasião, não foi suficiente para se reencontrarem conforme o prometido, embora agora já como adultos vividos e carregados de sonsice já sejam peritos em encontrar justificações pertinentes. Claro que Jesse já tinha dado ares de ser um escritor em potência e agora enriquecido com a experiência de uma noite única em Viena, a coisa materializou-se num livro. O que mudou em Paris face a Viena? O que trouxeram estes nove anos de interregno ? Um passado comum. Ambos tinham agora um passado juntos e podiam falar dele, e quem sabe, servindo como uma mola para o futuro, mas o que interessava mais era aquele presente que era para ambos um presente dos céus. E céus, era como se a vida toda, tivesse que ser vivida num só dia ! Até ao anoitecer...
Claro que em Paris, temos direito a vistas privilegiadas e muitos diálogos espirituosos, servidos com generosas doses de ironia e auto-convencimento, porque eles embora se saibam ouvir e argumentar, são duas primas donas de inchada personalidade narcísica. No intervalo das palavras, que muitas vezes se atropelam umas às outras, lá arranjam um tempinho para fazer amor, mas isso fica implícito, porque Linklater é um realizador inteligente e arruma o assunto numa elipse bem forjada.
E depois? Agora já é lícito querer saber do futuro destes dois marmelos, que nós adotamos quase sem dar por isso. Pois bem, a noite está quase aí, mascarada de fotogénico "sunset", propenso a despedidas amorosas. "Talvez nos veremos de novo, quem sabe ?"...
(Longa elipse de nove anos).
Eis-nos chegados ao terceiro "Antes de...algum semáforo temporal qualquer ". E este já não é nenhuma surpresa, estávamos à espera de uma sequela manhosa daquele "rendez-vous" de 2004. Só não sabíamos onde. Grécia? Um pouco de amor e a força telúrica das palavras no berço do pensamento racional, porque não ?
Também não é surpresa nenhuma que estejam casados, senão a coisa ganharia inesperados contornos psiquiátricos. Apesar de tudo, a normalidade é um conceito estatístico e neste caso aritmético. É só juntar um mais uma. Porque eles puseram-se a jeito e estavam a pedi-las. E nós também.
Agora, em 2013, são ambos uns cotas gordos, com estilo de vida, burguês e alternativo, de que as férias na Grécia, na companhia de lúcidos intelectuais, são um perfeito espelho. E com filhos deles próprios e de outra relação anterior, no caso do filho de Jesse, para reforçar o clima de contemporânea normalidade.
Eles continuam a falar muito entre eles. Não são os típicos fala-baratos, porque das suas bocas nunca se arrotam postas de pescada, apenas se exalam pérolas da sabedoria. Aliás, a ausência de modéstia, continua a ser um traço da personalidade deste casal, apesar de alguma honestidade intelectual, parecendo que o cabotinismo, assentou definitivamente arraiais, naquele ambiente familiar.
Linklater, filma esta prosápia toda com contido distanciamento, porque entre marido e mulher, nunca metas a colher. Deixá-los lá falar e caminhar e falar e dizer de sua justiça. Enquanto se ouvirem e o caldo não entornar, a coisa vai andando, porque enquanto o pau vai e vem, folgam as costas.
É um casal como muitos outros, agora a braços com responsabilidades e chatices domésticas, que os tesões de auroras e pôres-de-sol de antigamente, já não movem moinhos. Agora é que eles vêem o que é doce. Mas o que é doce nunca amargou, e eles lá vão resolvendo os pequenos conflitos do dia a dia. Pelo menos até ao dia em que se passa o nosso filme, os outros para trás estão disponíveis como memória deles e resguardados da nossa curiosidade em inexoráveis elipses do celuloide.
Porque no dia do nosso filme, eis que uma grande tempestade ameaça cair em cheio neste casamento. Quando eles se cansaram de falar e se dispuseram a fazer amor, a coisa murchou subitamente - cuidado, desconfie-se sempre da lengalenga como afrodisíaca ! - e a conversa degenerou de forma assaz maligna, falando-se de fim do amor. "Acho que já não te amo". Com este negrume no horizonte, presume-se que antes da meia-noite, dê molho, porque do jeito que a coisa entortou, muito dificilmente, outra coisa dará...
Bem pelos vistos, antes da primeira badalada da meia-noite, não vamos saber mais novidades, se feitiços serão quebrados, se Jesse virará lobisomen ou Celine vampira.
Porque isso, é o que ficará por descobrir após a próxima elipse de nove anos.
Então até 2022 !
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