Pesquisar

Páginas

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

☑ NORTH FACE (NORDWAND)


FICHA
Título: North Face (original em alemão: Nordwand)
Origem: Alemanha, Austria e Suíça
Linguagem: Alemão
Ano: 2008
Duração: 126 minutos
Género: Drama, Aventura, História, Desporto.
Argumento: Phillipp Stolzl e outros
Realização: Philipp Stolzl
Intérpretes: Benno Furman, Florian Lukas e Johanna Wokalek

SINOPSE
Em 1936, a propaganda nazi, precisava dos seus heróis e promove uma escalada, na mítica face norte do monte Eiger, nos alpes suíços. Os quatro alpinistas, dois alemães e dois austríacos, enfrentam as íngremes e gélidas escarpas e  as temíveis avalanches. Até onde irá a audácia e a resistência humana, face a tamanho desafio ?
Baseado numa história real.

TRAILER



CRÍTICA
Baseado numa história verídica.
Para os  amantes do cinema, isto por si só quer dizer zero, ou pode mesmo ser um factor de desmobilização atendendo aos antecedentes deste tipo de filmes.
Um "revisor" do IMDB, clama por mais "histórias verídicas", por parte de Hollywood, mas temendo talvez possíveis excessos de imaginação, livres interpretações ou putativas formas de "distorção" da realidade, acrescentou-lhe o adjectivo "fieis".
Mesmo abstraindo do facto de que a "realidade" e o "realismo", que actualmente  são tão  veementemente reinvindicados,  não  são em termos filosóficos, conceitos unidimensionais e livres de discussão,  a verdade é que desde os irmãos Lumiére, que o grande fascínio do cinema é a arte  da ilusão por excelência e aquelas imagens em movimento, contam uma história "verdadeira", no exacto instante em que se materializam na tela.
O que faz um bom filme é uma boa história e sobretudo o talento de a saber contar.
Este filme tem uma boa história, mas que se perdeu algures na confusão que está implícita a estes filmes ditos "realistas".
Por um lado há uma história real, e importa contá-la fielmente. Mas para provar que as "histórias reais", no fundo podem ser baças e em termos cinematográficos pouco "espectaculares", acrescentam-se alguns ingredientes, como uma história de amor com a heróina à beira das escarpas, a chamar pelo seu amor. E apimentada, com  todos os lugares comuns do género suspense...
Mas é na tão  gabada cinematografia, onde o filme poderia arrancar aplausos, que se desmonta a grande falácia subjacente a este tipos de filmes: por muito que custe aos cultores do género, a aldrabice dos duplos e a encenação é verdadeiramente o bigode postiço ou se quisermos o gato com o rabo de fora...
Voltarei ao tema, depois de ver "O impossível". Sem preconceitos.

Nota: *














segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

OS TRÊS MACACOS

 
FICHA
Título: Os três macacos 
Origem: Turquia
Linguagem: turco
Ano: 2008
Duração: 109 minutos
Género: Drama
Argumento: Ebru Ceylan, Erkan Kesal e Nuri Bilge Ceylan
Realização: Nuri Bilge Ceylan
Intérpretes: Yavuz Bingol, Hatice Aslan e Hamet Rifat Sungar
 
SINOPSE
Perto do Bósforo, vive uma modesta família turca, constituída pelo pai Eyup, a esposa Hacer e o filho de ambos, o jovem Ismail. Numa noite, Servet, o patrão de Eyup, um ambicioso político local, atropela mortalmente um transeunte e propõe ao seu empregado que assuma ele a culpa, em troca de dinheiro e uma curta estadia na prisão. Eyup concorda e fica preso. Ismail consegue então de Servet, dinheiro para comprar um carro, através da mãe, que se envolve de seguida com o político. Como é que esta família, com diferentes expectativas, lidará com a situação ?
 
TRAILER



CRÍTICA
O título  “ Os  três  macacos”,  deriva  do  provérbio   oriental,
exposto num célebre mural japonês, acerca da posição de três macacos perante o mal: um que não quer ouvir (tapa o ouvido), outro que não quer falar (fecha a boca) e o terceiro recusa-se a ver (tapa os olhos). Há um quarto macaco (tal como no filme) que nada quer fazer (e tem os braços cruzados).
Que é que isto tem a ver com este filme ?
Esta imagem remete-nos em primeiro lugar para um dilema moral. Perante uma situação moralmente questionável, como reagem as pessoas ? Certamente de diferentes formas…
Em segundo lugar, este é um filme sobre os problemas de comunicação entre três membros de uma família e entre estes e o exterior do agregado familiar. Tem como pano de fundo as diferentes expectativas de vida destas três pessoas, o pai, fazendo um sacrifício pela família e pelo patrão, o filho, um aluno medíocre e socialmente problemático, desejando um carro e a esposa, emocionalmente frustrada que pensa ter encontrado finalmente “o seu destino”, na figura do amante, patrão do esposo.
Em que medida estas três pessoas detêm o verdadeiro controle da sua vida ? Até que ponto as ações de um deles, afectam a vida dos outros dois ? Que lugar para a reconciliação e o perdão ?
Um filme ao estilo de Ceylan, simples e intimista, sem artifícios. O enredo é vida a fluir, simples e complexa ao mesmo tempo. As emoções, não são exibidas, antes se espelham dos rostos, dos gestos e dos silêncios dos personagens. 
A narrativa desenvolve-se de forma natural e os horizontes amplos límpidos e calmos do bósforo, servem de cenário adequado às rotinas e anseios dos personagens.
Os comboios passando bem perto da casa, são também destinos que se cruzam entre si e servem de fundo sonoro, omnipresente e repetitivo, às rotinas familiares.
Belíssimas interpretações destes actores turcos.
Um filme memorável.
 
Nota: ****

domingo, 17 de fevereiro de 2013

ANTICRISTO de Lars Von Trier





FICHA
Título: Anticristo (original - Antichrist)
Origem: Dinamarca, Alemanha, França, Suécia. Itália, Polónia.
Linguagem: Inglês
Ano: 2009
Duração: 108 minutos
Género: Drama, Horror
Argumento e realização: Lars Von Trier
Intérpretes: Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg

SINOPSE
Ela (Charlotte Gainsbourg) e ele (Willem Dafoe), formam um casal que experimenta o sofrimento, a dor e o desespero pela morte do filho, em circunstâncias trágicas - queda acidental da janela, enquanto os pais faziam sexo. Razões à priori terapêuticas, levam este casal a isolar-se na sua cabana na floresta do Eden, onde ele começa a ter visões bizarras e ela um comportamento sexual agressivo.
Filme composto de um prólogo, um epílogo e três partes: Sofrimento, dor (reina o caos) e desespero (femicídio).

TRAILER



CRÍTICA
Um filme que pretende ser o 1º acto da trilogia sobre a depressão. O 2º é o Melancolia de 2011 e o 3º vai ser o Ninfomaníaca de 2013.
Faz todo o sentido na mente de um realizador bipolar, com internamento por depressão grave, justamente antes de realizar este filme.
Pode-se argumentar, que um filme é um filme e que deve ser avaliado por si próprio. Não exactamente… É que agora está na moda o bota abaixo de LVT, pela massa crítica pensante, que usa os mesmos argumentos, travestidos é certo, que antes (de Dogville, onde começou o ódio ) serviam para o venerar. Ele é agora um realizador repugnante pela sua misantropia e misogínia . Coitadas das mulheres, que antes de as matar ( curiosa a predileção de LVT pelo pescoço…), as faz cegas, prostitutas e alvo de violação comunitária. Isso que quando deu jeito foi interpretado como um acto de denúncia e amor, é agora profundamente repugnante. O que a hipocrisia tem de mais patético ! E os homens, que os desenha estúpidos, falsos e manipulativos ?!
É culpado também de ser um realizador que distorce o sexo  (como se isso fosse possível…) , de copiar os seus congéneres ( o termo" copiar" é apenas ódio instilado, mas como é possível ignorar as nossas próprias referências ? ) e de ter ideias fascistas (uma conferência de imprensa descontextualizada, serviu o propósito…).
Enfim é o típico caso em que vale tudo, para o bota-abaixo...
Mas estamos perante um grande filme ? Não !...
É de certa forma,  o produto de uma mente torturada e doente. LVT, nesta sua fase vulnerável, desce às catacumbas da sua herança judaico-cristã, e à sua simbologia e alegorias.
Para perceber minimamente o filme, convém seguir a pista do título, porque nem sempre é assim…
Anticristo. Algo que contraria os planos divinos para o ser humano. E quais são esses planos? A felicidade eterna, no jardim do Éden, reinando sobre a natureza. Quem é o Anticristo ? A própria natureza exterior, que a mulher diaboliza, mas que sente querer fazer parte da sua própria natureza interior (por exemplo, a sua exacerbada libido), facto que foi percebendo durante a preparação da sua tese sobre a caça às bruxas na idade média (a tese chamava-se "Gynocide").  Ela tentou combater este conflito  (por exemplo, a desistência da tese e os sapatos ao contrário nos pés do filho). Mas de certa forma, a morte do filho e  a culpa que ela assumiu por ocorrer precisamente durante o sexo, levou-a a repensar as coisas. E quando ela se deixa vencer pela tentação, e se sente totalmente identificada com a natureza e o seu fruto proibido, portanto livre do conflito, ela assume que está curada e sente-se agora ameaçada, pelo homem, um ser superior que tutela a natureza e que se mostra resistente a provar o seu fruto. Neste contexto, se entende a subversão da tentação original. "Espera lá, não queres comer a maçã ? então toma lá esta". Daí resultou o esmagamento dos genitais masculinos e a masturbação masculina com a famosa ejaculação de sangue. Por fim, no verdadeiro clímax da culpa,  ela executa a amputação do seu próprio clitóris.
Cumprindo-se a profecia, ele mata-a e sai do Éden, encontrando cá fora, as mulheres mártires da Igreja satânica da natureza, que se lhe dirigem.
Muita teologia simbólica e visual, muito misticismo, quase sempre herméticos para o espectador comum. Por exemplo,  a alegoria dos "três mendigos",  o veado, a raposa e o corvo, que por sua vez representam o sofrimento, a dor e o desespero e que  juntos são a verdadeira antecâmara da morte. 
Deduz-se da narrativa, é certo, mas o filme está pejado de imagens deste tipo e de uma certa retórica, que tende a distrair o espectador do essencial do filme - o sexo e a culpa. 
É um filme sobre o sexo e os novelos da culpa e foi corajoso, mostrando o objecto fílmico tal como ele é, com o sexo explícito a pôr todos os hipócritas a berrar ( a fonte da culpa, percebe-se...).
Eu não acho que o LVT seja misógino. Agora, a humanidade, essa sim, não confundamos a perspectiva... a história tem mostrado à saciedade que a infâmia tem vivido connosco há milénios e não foi inventada nem recriada por LVT…
Este filme é no entanto um semi-falhanço, porque se deixa enredar nas contradições da temática, resultando numa narrativa algo confusa e apenas apelativa para quem gosta de misticismo, que não era definitivamente o objectivo último do filme.
Mas LVT não é um realizador qualquer, e não merece ser tratado com tanta sobranceria pelos críticos.
É um realizador sui-géneris, mas com laivos de genialidade, nas obras que assina.
Mesmo neste filme, que pese embora  algumas objeções, merece ser visto.

Nota: **

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

UM PORCO EM GAZA


FICHA
Título: Um porco em Gaza (Original: "When pigs have wings")
Origem: França, Alemanha e Bélgica
Linguagem: Inglês, árabe e hebraico
Ano: 2011
Duração: 98 minutos
Género: Comédia
Argumento e realização: Sylvain Estibal
Intérpretes: Sasson Gabai, Baya Belal e Myriam Tekaia

SINOPSE
Jafaar, um pobre pescador da faixa de Gaza, um dia teve a desagradável surpresa de encontrar nas suas redes, em vez de peixe, um porco ! Um animal impuro, tanto para palestinianos como  judeus, que não pode pisar o chão sagrado da Palestina ! Jafaar tenta ver-se livre dele. Mas será que conseguirá ?

TRAILER


CRÍTICA
O jornalista, escritor e realizador francês Sylvain Estibal, atreveu-se a fazer uma comédia sobre a vida em Gaza, ocupada por colonatos judaicos e sitiada por tropas.
À partida não vejo razão para não se brincar com coisas sérias. Mas é muito arriscado e exige alguma perícia.
Apesar do carácter ligeiro do filme, há uma tentativa de passar uma mensagem séria, no subtexto, que quanto a mim, é algo forçada e estraga um pouco a boa onda do filme : a da tão desejada  convivência pacífica entre judeus e palestinianos.
Na sequência em que a mulher de Jafaar vê uma novela brasileira (!) acompanhada de um soldado Israelita, este diz-lhe que em Tel Aviv, também ele costuma ver essa novela, dando a entender ao espectador que não há assim tantas diferenças entre eles. Um casal de brasileiros não pára de discutir na novela, uma evidente analogia à situação local.
O Israelita diz que o casal da novela, tem de se entender, ao que ela argumenta: "ele deve deixá-la em paz !..."  Mais outra alusão ao conflito Israelo-Palestiniano.
No fundo, o porco, um animal tão impuro para ambos os povos, acaba por ser tolerado e mesmo explorado, como se todos admitissem, que ninguém estava "limpo" na história.
O final é um clichê pateta do futuro naquela terra miserável, com toda a gente feliz...
Enfim, não foi só aqui que este filme descarrilou...
Mesmo assim, tem o mínimo de interesse para ser visto.
Nota: **

sábado, 9 de fevereiro de 2013

INSTANTÂNEOS: UZAK - LONGÍNQUO



Um filme do turco Nuri Bilge Ceylan, de 2002.
Longínquo.
Um belíssimo filme sobre a distância entre o que desejamos e a realidade. A distância entre as pessoas. Entre o presente e o passado. Entre o que as pessoas vêm e como são vistas.
Fotografia de cortar a respiração, oferecida por um cineasta intimista, que também é um notável fotógrafo.
Só para privilegiados.

THE MASTER - O MENTOR

 
FICHA
Título: The master - O Mentor (Original : The master)
Origem: EUA
Ano: 2012
Duração: 144 minutos
Género: Drama
Realização e argumento: Paul Thomas Anderson
Intérpretes: Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams
 
SINOPSE
Um marine veterano, regressa à Califórnia, depois da II guerra mundial. Ele é um alcoólico psicologicamente perturbado, que enfrenta problemas de adaptação à nova realidade americana do pós-guerra, até que é apanhado nas malhas da "Causa" e do seu carismático lider.
 
TRAILER
CRÍTICA
Esta apreciação sobre o filme "O mentor", vem na sequência das considerações anteriores sobre "públicos".
E isto porquê ? Porque parece-me que este é o tipo de filme para um público mais restrito, fundamentalmente amantes e conhecedores de cinema, ou seja "especialistas" e alguns "médios" . Os "básicos", é que estão mesmo fora de questão, como iremos ver…
Mas há questões prévias, que eu gostaria de colocar: Quando se diz "gosto" de um filme, isso traduz sempre uma adesão positiva à temática ou narrativa do filme ou alguma empatia por um ou outro personagem, ou é possível "gostar" de um filme sem sentir nada disso, ou até o oposto, em virtude de se considerar que tal obra possa ser, apesar do impacto emocional negativo, uma referência importante em termos intelectuais ou estéticos ?
Será que todas as temáticas depressivas , visões pessimistas sem redenção possível e fins desesperados ou se quisermos realistas, estão condenados a ser emblemas de filmes a evitar em detrimento daqueles com abordagens positivas, mensagens alegres e otimistas e fins felizes ? Poder-se-á simplesmente dizer que um bom ou mau filme, poderá ter um pouco de tudo isto, dependente da presença ou ausência daquele toque de Midas que faz o ouro luzir ?
Outra coisa que eu acho difícil para nós público "médio" é falar de um filme. Não de contar a "história" se a tiver, porque isso, até um básico faz, mas sim falar dos temas tratados no filme. E este filme é sobre quê ?
-O conflito entre a dimensão individual e a tentação da coletivização. Por um lado, o individuo, fragilizado pelos traumas da guerra, pelo amor perdido e pelo futuro incerto, com necessidades únicas. E por outro lado,   a "causa" aglutinadora e normalizadora, que reduz a pessoa a uma peça anónima da máquina, com uma função a cumprir.
Ou se quisermos, a tensão existencial entre a solidão individual e a guarda protetora do grupo e seu líder, cumprindo os pressupostos de uma organização política e religiosa, ao fim e ao cabo uma metáfora da América. E isto não surge por acaso, uma vez que  o argumento é parcialmente inspirado pela personagem de L. Ron Hubbard, o fundador da Cientologia. Os métodos descritos no seu livro "Dianética" , encontram paralelo perfeito nas perguntas marteladas repetitivamente pelo lider da "causa"- Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman).
Mas P.T. Anderson foge subtilmente à polémica, que adviria de ser um filme exclusivamente sobre a Cientologia, introduzindo a figura central de um "discípulo marginal" Freddie Quell (Joaquin Phoenix), que foi inspirado nas "Memórias de John Steinbeck", as aventuras de um marinheiro vagabundo dos mares e da costa da Califórnia.
Paul Thomas Anderson é um cineasta que não gosta de dar respostas nem de deixar mensagens nos seus filmes. São obras de um autor cerebral, que exige do público um trabalho pessoal de preencher os espaços em branco, sendo essa  uma das marcas do seu enorme talento.
O Mentor não é um filme imediatamente agradável, e tende até a parecer aqui e ali algo enfadonho, não suscitando, as suas personagens, grande empatia. Mas é um filme que dá que pensar pela actualidade dos conflitos existenciais que revela.
Nota: ***

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

OS PÚBLICOS

 
Ontem vi o filme "O mentor" , de Paul Thomas Anderson e antes de escrever alguma coisa sobre ele, senti a necessidade de alinhavar umas notas sobre "os públicos".
Os consumidores de produtos culturais, enquadram-se numa das três categorias: básicos, médios e especialistas.
Os "básicos", encaram a coisa apenas como um "passatempo" e "divertimento". Se tiverem dois neurónios funcionantes para fazer uma associação de ideias ou uma dedução, preferem usar este atributo para coisas mais "uteis", como ser mais esperto que o próximo e não "matar a cabeça", com "paneleirices". Num filme, é obrigatória a ação e quanto mais melhor: murros, tiros e perseguições de carros, são ingredientes, que se não existirem ou forem escassos, tornam o filme "chato" e o risco de "adormecimento" é considerável.
O argumento, que eles preferem traduzir por "história", tem que ser linear e facilmente compreensível. Nada de interpolações espácio-temporais, nem outras técnicas manhosas de começar a contar histórias pelo fim ou pelo meio ! "Percebeste o filme ? - Não percebi patavina !", é um clássico dos básicos. Os básicos não entendem que tenham que ser eles a compor mentalmente um filme, como se de um puzzle se tratasse. "Puzzle ? estás a brincar, já não tenho 6 anos!...". A coisa é simples: há os maus , que é preciso descobrir, castigar e eliminar, tarefa a cargo dos bons, com quem eles se identificam.
A "história" é boa, se tiver uma eficaz mistura de amor, ciúme e traição. O sexo apimenta e de que maneira a história ! E então se estiverem perante uma "história verídica", os básicos rejubilam, porque já estão fartos de serem enganados por "tuneis do tempo", "universos paralelos" , "espíritos reincarnados" e "outras paneleirices". Se você tiver predileção por "histórias verídicas" e emociona-se seriamente, quando lê o aviso inicial "baseado em acontecimentos reais", então você é um básico.
Os básicos nutrem um ódio visceral, mas raramente assumido, por livros. Há quem prefira dizer que "não tem tempo" para ler. O chato dos livros é terem "muita letra". Se tiverem desenhos ou fotografias ainda podem ser folheados, com aquela auto-satisfação de quem já conhece a matéria ou já fez a cadeira. Sim, porque o básico, é uma espécie prolífica e transversal à sociedade, com habitats variados desde hortas e fábricas até campos universitários.
O consumidor "médio" de produtos culturais, geralmente faz questão de usar os neurónios e é capaz de aduzir duas ou três razões porque gosta ou não gosta de um filme, de um disco ou de um livro. Geralmente é um cliente assíduo de concertos e compra discos ou livros regularmente. O " divertimento", não é o única condição para aderir a um produto cultural. Ele é mais refinado e junta-lhe outras especiarias como:   "inteligente", "fascinante", "estimulante", "desafiante". Detesta ser tratado como um básico e isso reflete-se nas escolhas que são menos primárias, incluindo temáticas "complexas" e "ambivalentes". Se um básico, coitado, apenas vislumbra  o branco e o preto, o médio enxerga, toda a escala de cinzentos, na boa !... E claro, tem o seu "ginásio intelectual", que inclui visitas regulares aos jornais e revistas da especialidade.
Este espécime, exercita-se no "confronto de ideias", sendo por isso muito permeável, especialmente à opinião dos "especialistas", pelo que em muitos casos é pertinente a questão da "originalidade" das ideias que veicula. O caso extremo é o do chamado "pseudo-intelectual", que antes de dar opinião sobre algum evento, gosta sempre de consultar a sua cábula preferida.
"Perguntas-me se gostei do filme ? Ora bem, amanhã digo-te, preciso de ler a crítica do João Lopes".
Por aqui já se vê que o médio contem várias sub-espécies, que têm em comum, um leque mais amplo de escolhas e um carácter mais instruído, aberto e universal.
"O gosto médio" é na realidade uma espécie de "média aritmética" das "notas" que os médios  vão dando, formal ou informalmente aos "produtos culturais" que consomem. O IMDB da coisa…
O "especialista" como o nome indica, domina a matéria. Lista, cataloga e compara os produtos e seus autores. É mais elitista e compraz-se em contradizer o "gosto médio". Por exemplo, o Christopher Nolan e os seus filmes, estão nos primeiros lugares do IMDB, mas isso não impede que seja uma vulgaridade, para a maioria dos "especialistas". E não é raro, filmes de 4 ou 5 no IMDB, serem  catalogados pelos especialistas como obras-primas.
É desta casta, que nascem os críticos. Não os deste blog, entenda-se, que pertencem a uma  sub-espécie  rastejante e eutrófica, dos médios.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

SEIS SESSÕES

 
FICHA
Título: Seis sessões (original: "The sessions")
Origem: EUA
Ano: 2012
Duração: 95 minutos
Género: Drama
Realização: Ben Lewin
Argumento: Ben Lewin, baseado no ensaio do jornalista e poeta Mark O'Brien, "On Seeing a Sex Surrogate", publicado no "The Sun Magazine", em 1990.
Intérpretes: John Hawkes, Helen Hunt e William H. Macy

SINOPSE
Mark O'Brien, jornalista e poeta, com grave deficiência motora, resultante de Poliomielite, contraída aos seis anos, dependente da ajuda de outros e de respiração artificial, decide perder a virgindade, recorrendo a uma "substituta sexual", contando para o efeito com o apoio espiritual de um padre.

TRAILER


CRÍTICA
O realizador Ben Lewin, australiano de origem polaca, inspirou-se na sua própria deficiência motora, resultante de Poliomielite, mas também no caso mais extremo de Mark O'Brien, jornalista e poeta americano, que morreu em 1999, com 50 anos.
O caso de Mark O´Brien, já tinha sido objecto de atenção em Hollywood, através da curta documental, realizado por Jessica Yu, "Breathing Lessons: The Life and Work of Mark O'Brien", de 1996, a qual foi galardoada com um Oscar em 1997.
Filmes sobre os dramas dos deficientes, saem de Hollywood e similares, às paletes.
A temática do sexo, na deficiência motora, é que é mais rara. Mas mesmo assim, convém lembrar entre outros, o filme de Oliver Stone, de 1989, com Tom Cruise, "Nascido a 4 de Julho", que aborda superficialmente o tema.
Um filme, no mínimo estranho, sobre o sexo nas pessoas com deficiência física profunda.
Em certos aspectos, roça a ficção científica.
Não tanto na plausibilidade do acto em si, mas na envolvência afectiva que aqui é de 5 estrelas, não faltando o apoio espiritual de um padre católico progressista, para já não falar no amor imenso que o pobre diabo concita à sua volta...
Progressismos e modernismos à parte, o filme desenrola-se de forma pouco convencional, ao desviar o foco da superação das limitações físicas, já muito batido em melodramas de Domingo à tarde, e elevando espiritualmente o sexo, desta forma, ganhando sentido a figura simbólica de um "guardião espiritual", como o padre. A exposição reiterada do corpo feminino perfeito, todo oposto ao masculino inerte (com uma excepção nuclear, parece...), é mais um elemento, que introduz, de forma natural, matizes espirituais e o componente amoroso na narrativa.
Nomeado para um Oscar (Helen Hunt, como actriz secundária, ela que já ganhou como actriz principal, no "Melhor é impossível !" de 1997, de James L. Brooks).
Excelente performance de John Hawkes, aqui como actor principal, ele que é sobretudo um secundário (Despojos de Inverno, Lincoln). Menos conhecida é a sua faceta de músico, ele que já emprestou a sua voz aos portuenses Lulla Bye, em "Gone and we dance" (2007).

Nota: **
 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

ARGO - de Ben Afleck


FICHA 
Título: ARGO 
Origem: EUA 
Ano: 2012 
Duração:120 minutos 
Género: Drama. Histórico.Thriller. 
Realização: Ben Afleck 
Argumento: Chris Terrio, baseado no livro de Tony Mendez "The master of disguise: My secret life in the CIA" de 2000 e no artigo de Joshuah Bearman , na Wired de Maio de 2007, "Escape from Tehran". 
Intérpretes: Ben Afleck, Bryan Cranston e John Goodman 

SINOPSE 
Um filme sobre a "crise dos reféns americanos", em 1979, em Teerão. Sobre o modo como a CIA arquitectou um plano de escape de 6 diplomatas americanos refugiados na casa do embaixador canadiano, sob um disfarce de membros de uma equipa de filmagens de um filme de Hollywood. 

TRAILER 

CRÍTICA 
Um drama, com um fundo político, tratado com alguma subtileza, de um ponto de vista americano, tentando ser fiel à história "oficial", não escondendo as culpas americanas, mas diabolizando um pouco os Iranianos. Estes, parece que não gostaram do modo como a história foi contada e de como foram retratados no filme e já ameaçaram com um filme, com a sua versão dos factos. Aguardemos… 
A realização e interpretação são sóbrias, excepto na parte final, em que vem ao de cima os piores clichês dos filmes de suspense, com os disfarçados quase, quase, a serem apanhados, mas por fim lá conseguem escapar… 
Confesso que fui enganado e manipulado pela enésima vez, com este estratagema típico de Hollywood, porque até gostei. O primarismo e o imaginário infantil do cinema… 
Um excelente retrato de época, com caracterização rigorosa.
Música da época, incluindo Iraniana.
Montes de prémios ganhos e outros no horizonte. Um candidato plausível a 7 Oscares , com algumas hipóteses na categoria de melhor filme e realização. 
Por aqui já se vê, um típico produto de Hollywood...

Nota:***

domingo, 3 de fevereiro de 2013

EM DEFESA DE DJANGO



De forma simples e directa : gostei !
Em relação à respeitável opinião do Farol de Leça, há coisas com as quais concordo:

O filme como um espectáculo, enquadrado num género - o Western - com todos os seus estereótipos: bons contra maus e um final feliz, com os heróis cavalgando para o pôr do sol. E tudo isto apresentado numa estética, muito própria do sub-género Western Spaghetti, onde tem importância a música, os cenários, as poses teatrais dos personagens e um estilo muito peculiar de filmar. E não esquecendo o argumento que inclui geralmente histórias de vingança, com extrema violência.
Também concordo, que o filme aborda um tema caro às consciências , a escravatura e que isso pesa na avaliação.
Agora, o desacordo:
É óbvio que, de um filme, tal como um livro ou outra coisa qualquer, gosta-se ou não.
É uma experiência pessoal e só parcialmente partilhável. Um filme interpela não só a inteligência, como também as emoções e os sentidos da pessoa. Uma personagem de quem gostamos, a cheirar uma flôr, pode invocar em nós memórias olfactivas que julgamos adequadas naquela situação. Ou uma refeição. Ou até mesmo, sem ser necessário explicar, imagens de cunho erótico. Quando gostamos, "porque sim", sabemos que as respostas, estão todas guardadas, nesse reduto íntimo.
É complicado partilhar estas emoções ao nível que elas se manifestam. Podemos falar delas e neste aspeto, a mente é um mero escrivão que às vezes aldraba um bocado.
Por isso convencer alguém a gostar ou a não gostar de um filme é como olhar para as nuvens e dizer-lhes, que não gostamos da chuva e gostaríamos que parasse de chover.
Tarantino quis fazer o seu Western Spaghetti e com isso a sua homenagem a Leone, a Corbucci e outros. Mas também ao grande cinema americano, exemplificado em Raoul Walsh e no seu esplêndido "Band of angels", filme de 1957, com Clark Gable, que tive a felicidade de ver, graças a uma crítica do Vasco Câmara, do Público.  (Parem de diabolizar os críticos ! Eu, confesso, leio-os, umas vezes concordo, outras não, mas dou-lhes o benefício da dúvida, porque em princípio, têm todo o tempo do mundo para ver filmes, coisa que eu lamento não ter !)
Mas isso não impede, que seja um filme à Tarantino, só podia ser !
E esta é uma obra de Tarantino, com todas as marcas deste realizador. Se não tivesse aquele aparato cénico todo, aquela violência paródica e obscena e aquele humor corrosivo, não seria um filme de Tarantino e é uma treta falar de um Tarantino da fase de Jackie Brown e de um Tarantino dos Sacanas sem lei, em ambos está bem patente um carácter visceralmente louco e possesso por um cinema de imagens fortes .
E porque é que a violência e o grotesco não podem ser PARTE do espectáculo ? Por meras medidas sociais preventivas ? Como se isso, fosse a causa ou resolvesse o problema…
Mas é evidente, que as imagens de grande violência, ferem a sensibilidade de muita gente, que respeitavelmente têm o direito de as ignorar. A mim pessoalmente , desde que devidamente contextualizadas, não me causam nenhuns pruridos, nem fico com mais vontade de adquirir uma shotgun para tratar dos problemas mais bicudos.
Quanto aos estereótipos, eles existem em todos os géneros, até mesmo no cinema dito alternativo ! O que faz a diferença é a forma como eles são usados para contar uma boa história, porque ISTO É APENAS CINEMA…

DJANGO - de Quentin Tarantino


FICHA
Título: DJANGO  Libertado ("Django unchained")
Realização: Quentin Tarantino
Ano: 2012
Origem: EUA
Duração: 165 minutos

SINOPSE
EUA, dois anos antes da guerra civil. Com a ajuda de um alemão, ex-dentista e caçador de prémios, um escravo tenta resgatar a sua mulher, das garras de um brutal fazendeiro sulista.

CRÍTICA
Pois é, lá fui, como quase toda a gente, ver o tal filme que consegue, com bom marketing, levar a que as salas e não são poucas, estejam cheias como já não se via há muito tempo.
É um espetáculo em que nada foi deixado ao acaso.
Tem todos os ingredientes, todos os lugares comuns dos filmes do género: música, paisagens, figuras do oeste, tiros a rodos, bons e maus e um final feliz, com o mocinho e a mocinha e um pôr-do-sol.
Então qual é a diferença?
Quanto a mim apenas e só na história que remete para um tema caro às consciências e sentimentos do distinto público: escravatura.
Retirem isso e o que fica? Um filme de "cowboys" à boa maneira de Sergio Leone.
Prefiro os originais.Convençam-me, por favor, do contrário!...
Estou a pedir que o façam, mas, por favor, façam-no com as vossas palavras.
Não venham com o que disse, o não sei quantos, na revista do tal e tal. Ok ?

BARBARA

 

FICHA
Título: Barbara
Realização: Christian Petzold
Origem: Alemanha
Ano: 2012
105 minutos.
 
SINOPSE
Alemanha de leste, antes da queda do muro de Berlim. Uma médica, com problemas com o regime, é desterrada para um pequeno hospital de província.
 
CRÍTICA
Bom filme. História simples. Os temas de sempre: amor e lealdade.
Complexidade, no que à primeira vista será branco ou preto.
Sem artifícios.
Uma atriz extraordinária, em cujo  rosto o enredo passado e presente vai sendo "escrito".
Uma história de médicos, tambem.
Estou, de fato, mais virado para este cinema de que para a pirotecnia.
Paciência.

LIVRO: REINALDO MORAES - PORNOPOPEIA


 


FICHA
Título: Pornopopeia
Autor: Reinaldo Moraes
Editora: Quetzal Editores
Data de lançamento: Junho de 2001
Nº de páginas: 264
FNAC

SINOPSE
"O protagonista de Pornopopeia, é um produto do nosso tempo - um individualista atroz na busca incessante do prazer imediato.
Antigo cineasta marginal (com uma única longa-metragem no currículo), Zeca, que não tem dinheiro e vive na base do improviso, precisa de fazer um spot publicitário sobre miúdos de frango. E não sabe por onde há-de começar. Por isso dá largas à sua voracidade (mais uma linha, mais um uísque, mais um engate) e entra numa espiral de sexo, álcool e drogas de proporções épicas." (FNAC)
 
CRÍTICA
Há pouco tempo circulou na net um video em que um casal sessentão está na cama.
Ela tenta que o maridão tome viagra.
Ele recusa e lê o folheto informativo com os efeitos secundários que lhe servem de desculpa.
Desculpas que ela vai desmontando e desvalorizando.
Dois bons atores, um texto hilariante.
O texto é de Reinaldo Moraes, do livro "Umidade". Nunca tinha ouvido falar do homem.
Vejam o video:





Voltemos ao tema que me faz aborrecer vossas excelências.
PORNOPOPEIA é a história de um "serial fucker" que tem o corpo cheio de estupefacientes e a alma de toda a cultura pop e erudita do século passado e não só.
Entre os dois, cabe uma fina lâmina de plástico, com princípios morais e éticos, flexiveis como o seu suporte.
Palavrões, sexo, drogas e uma série de mal entendidos.
Cocktail de lugares comuns, certo?
Errado.
É o ponto de partida para uma reinvenção da língua, ao longo de muitas páginas em que nos deliciamos com a imaginação e a maravilha que é a boa literatura.
Para guardar do lado bom da memória e procurar ávidamente outras obras do mesmo sacana.
Façam um favor a vocês e não a mim, que pobre de mim, pouco valho e leiam-no.
Digam depois, na minha cara, que não gostaram se forem capazes.
Até gostava de ver isso.