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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

☑ MATOU, de Fritz Lang

M de Marcante

"M" - Título original em alemão (e em inglês).
"Matou" - Título em Portugal.
"M - O vampiro de Dusseldorf" - Título no Brasil.
Origem: Alemanha (1931). Linguagem : Alemão.
Realização: Fritz Lang.
Argumento: Egon Jacobson (artigo), Thea von Harbou e Fritz Lang.
Com: Peter Lorre, Ellen Widmann, Otto Wernicke, Theodor Loos e Gustaf Grundgens.
Fotografia: Fritz Arno Wagner.
Género: Thriller psicológico. Drama. 99 minutos. Preto e branco.
Sinopse:
Um assassino de crianças espalha o terror em Dusseldorf. A "caçada" levada a cabo pela polícia é de tal magnitude que os ladrões sentem-se limitados nas suas actividades, e dada a ineficácia da polícia decidem tomar eles o encargo de capturar o criminoso.
Parece incrível, mas M é um filme de 1931. É importante frisar isto porque há coisas que estão aqui a nascer ou no período neonatal. Eram os anos de maturidade do expressionismo alemão e a vanguarda também se fazia notar em força na sétima arte. Mas o "ovo da serpente", já tinha eclodido e as suásticas começavam a projectar as suas tenebrosas e ameaçadoras sombras. Fritz Lang (1890-1976), não era já na altura, um cineasta qualquer, com a magnificência de Metropolis (1927) a servir de principal cartão de visita. Foi assim natural que Joseph Goebbels, lhe propusesse a superintendência do cinema alemão, que o realizador rejeitou não tão perentoriamente como se imagina, porque as más línguas aventam que ele teria aceite não fora o medo de se ver descoberto o seu sangue judeu, por parte da mãe. De qualquer das formas, Lang foi para Hollywood, onde consolidou a sua carreira com muitos títulos importantes de que se destacam  a título de exemplo, "Rancho Notorious" (1952), "Corrupção" (1953) e "Cidade nas trevas" (1956). Na América, não granjeou grande simpatia, ficando com a fama de ser sádico com os atores e atrizes. Lang não apreciava especialmente as típicas "fake scenes" de Hollywood, tendo ficado célebre o episódio de "Western Union" (1941) em que Randolph Scott, se debate verdadeiramente  aflito, preso nos pulsos por uma corda verdadeira e rodeado de chamas, verdadeiras é claro... Regressou por breves períodos à Europa, mas manteve sempre a base na Califórnia, onde morreu em 1976, com 85 anos. A última participação no ecran, foi como ator (!) fazendo de si próprio no memorável "Desprezo" (1963) de Jean-Luc Godard, já revisto neste blog(aqui).
Voltando ao filme M,  embora este não seja um dos  expoentes máximos do expressionismo alemão no cinema, a sua influência já se faz sentir,  começando a nível do argumento, onde se releva a componente emocional, através de uma temática inquietante, exibindo-se  a experiência individual do medo  e a sua expressão colectiva,  sob a forma de paranoia. Estas linhas do argumento reflectem-se numa cinematografia em que sobressai a típica deformação formal, com manipulação da luz e criação de sombras e abstrações simbólicas indutoras de sobressalto, temor e mesmo pânico. Na narrativa, são numerosos os planos em que é evidente esta estética emocional, citando-se logo no início a sombra do assassino projetada sobre os escaparates da imprensa em que  sobressaem as  manchetes dos assassínios. Determinados elementos simbólicos têm idênticas conotações, como se pôde constatar com o  balão  que a mãe de uma das crianças desaparecidas, não pode associar a esse evento ao contrário dos espectadores que o podem fazer. No trabalho dos atores, sobretudo no de Peter Lorre, é também visível o primado das emoções e tal expressividade chega a ser particularmente marcante na mímica de Lorre, onde os aspectos da anatomia facial, como os olhos esbugalhados espelham bem o seu sofrimento interior.
O argumento não fica isento de leituras políticas, numa altura em que o nazismo começava a instalar-se no coração da Alemanha. Forçando a nota, podemos considerar os nazis, mais perto do perfil dos ladrões, na medida em que  prevalecem em organização e eficácia sobre as forças detentoras da lei e da ordem. Não deixa de ser também curioso o pormenor da caça, que é uma espécie de premonição sobre a grande caça aos judeus que viria ocorrer anos mais tarde, também eles considerados pelo sistema "anormais" irredimíveis que tinham que ser obviamente eliminados, depois de "marcados", então com a estrela de David e não com M, como no filme, mas o espírito é estranhamente similar.
M é mesmo magistral e marcante.


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