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sábado, 28 de setembro de 2013

☑ O GOSTO DO SAKÉ, de Yasujirô Ozu

O gosto especial da despedida
"Sanma no aji" - Japão (1962).
"An Autumn afternoon" (Inglês).
"O gosto do Saké" (Portugal).
De: Yasujirô Ozu ( realização e argumento - com Kôgo Noda)
Com: Chishu Ryû, Shima Iwashita, Keiji Sada, Noburo Nakamura e Ryûji Kita.
Japonês. Drama. "Comédia". 112 minutos. Cor.
Direção de fotografia: Yûharu Atsuta.
Musica: Takanobu Saito.
 
Sinopse
No início dos anos 60, em Tóquio, o viúvo idoso Hirayama, antigo capitão da marinha e actual gerente de uma empresa, tem três filhos que em graus diferentes dependem de si. Ele vive com os dois filhos mais novos, uma rapariga  (Michiko)  de 24 anos e um teenager (Kazuo), uma vez que o seu filho mais velho (Koichi), já tinha casado. Hirayama, encontra-se muitas vezes com os seus velhos amigos Kawai e Horie, e ocasionalmente com o velho mestre escola Sakuma, para beber e conversar. Sakuma vive com a sua filha que sacrificou o seu casamento para cuidar do velho. Este facto e uma proposta de casamento para  Michiko, faz Hirayama empenhar-se mais no futuro da sua filha...
 

O "Gosto do Saké", é uma despedida memorável de um dos grandes mestres do cinema.
Antes, tínhamos sido deslumbrados  com " Viagem a Tóquio" de 1953, se não o melhor, pelo menos um  dos melhores filmes de sempre, e é bom que se intua essa frase no seu sentido pleno, porque este não é um filme que se extinga no fim do seu visionamento. É um filme que fica permanentemente em exibição, num loop sempre cativante e surpreendente, no cantinho mais nobre das nossas memórias, impondo-se como um tratado imperecível  sobre  os mistérios da alma humana, o amor, a família, a perda e a solidão, num mundo em constante transformação.
Neste último fôlego da sua vasta e memorável obra, Ozu brinda-nos com uma breve e singela elegia que pode ser entendida como mais um capítulo da dinâmica da família japonesa no pós guerra, agora numa cidade de Tóquio, que resplandescente de néons,  se afirma pujante de alegria e de um burburinho de crescente progresso. Com o mesmo senso de contenção e de rigor estético, que se desenhava magnificamente em "A viagem a Tóquio", este filme percorre de forma lenta e pacificante,  subtil e comovente, os labirintos da tradição e da honra familiar, do envelhecimento, do amor, da perda e da solidão.
Os diálogos sobrevoam  com indisfarçável ironia as pequenas conquistas, mas também, as dificuldades e os sonhos desfeitos de um quotidiano ordinário. Mas mais do que as palavras são os rostos e as emoções que deles se desprendem que são o grande triunfo deste filme.
O gosto forte e particular do Saké, une as personagens em torno das pequenas-grandes  questões do dia a dia e por artes mágicas de Ozu, tudo isto também nos  embriaga,  às vezes tendo o mesmo efeito que nos convivas do filme, fazendo-nos sair do nosso centro de gravidade ou da tal  "zona de conforto", como agora se diz, fazendo-nos ver como as coisas progridem, muitas vezes de forma  cambaleante.
Ozu, capta tudo isto com sublime contenção e intimidade, com uma câmara pouco móvel, afastada e  perto do chão, permitindo uma fluência mais natural das cenas nos espaços diversificados  onde ocorrem. Os planos  e respectivos enquadramentos são sóbrios e rigorosos, permitindo-nos comungar verdadeiramente do espírito da narrativa.
Em suma, uma obra prima, que sem pretensões pode mudar algo dentro de quem tem o privilégio de a ver e viver.