Pesquisar

Páginas

sábado, 26 de outubro de 2013

☑ MORANGO E CHOCOLATE, de Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío

Sabores e dissabores da revolução

"Fresa y chocolate" - Título original em castelhano.
"Morango e Chocolate" - Título em Portugal e no Brasil.
Origem: Cuba, México, Espanha e EUA. 
Ano: 1993. Linguagem: Castelhano.
Realização: Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío.
Argumento: Senel Paz (baseado no seu conto de 1990: "O lobo, a floresta e o homem novo") e Tomás Gutiérrez Alea.
Com: Jorge Perugorría, Vladimir Cruz, Mirta Ibarra, Francisco Gattorno e Marilyn Solaya.
Cinematografia: Mario Garcia Joya.
Música: José Maria Vitier.
Género: Comédia. Drama. Duração: 108 minutos. Cor.
Sinopse
Cuba, 1979. Diego um intelectual e artista homossexual, apaixona-se por um jovem heterossexual comunista, cheio de preconceitos e fortemente ortodoxo e doutrinado no aparelho comunista cubano. A princípio impõe-se a rejeição e a suspeita, mas pouco a pouco, fortalece-se um espírito de amizade que se sobrepõe a todos os rótulos e barreiras.
 
Tomás Gutiérrez Alea (1928-1996), foi o maior cineasta cubano e nessa área o rosto mais empenhado do regime de Fidel, tendo criado e dirigido o instituto que superintende o cinema cubano. O alinhamento com o regime, não o coibiu de algum criticismo sobre aspetos da revolução, como pode ser constatado no emblemático filme de 1960 "Memórias do subdesenvolvimento" e de forma mais subtil neste "Morango e chocolate".
Diego é o típico "maricon" com pretensões intelectuais e artísticas, que lê e cita Dostoevsky, enquanto toma chá francês: "Os personagens de Dostoevsky, sempre tomam chá." Ele tenta "engatar" David, o jovem marxista ortodoxo e heterossexual empedernido, ainda com estigmas de uma recente e traumática rejeição amorosa. E usa para tal todos os truques e seduções incluindo aqueles que tocam mais ao coração do jovem comunista, que apesar do seu empenhamento partidário revela uma ânsia incontida de conhecimento: o  imenso repertório cultural incluindo livros, discos de Maria Callas e obras de arte, vão seduzindo David mas não ao ponto pretendido por Diego. Mas rapidamente Diego percebe a impossibilidade da sua empreitada e sublima a sua paixão em amizade sincera, não faltando um inesperado suporte logístico para uma relação heterossexual do jovem comunista com uma vizinha, Nancy uma sensível e divertida comunista do aparelho, encarregue frequentemente de atividades de espionagem e controle, mas que no caso vertente foi toda canalizada para a região perineal do jovem.
O argumento desenvolve-se assim de forma divertida, expondo as contradições da sociedade cubana, às vezes de forma tão abertamente crítica que chega a surpreender, como no plano em que Diego à janela do seu apartamento, falando com David, reflete sobre o crescente empobrecimento e decadência da bela Havana. O suporte visual da narrativa é a um tempo só, sóbrio e impressivo, revelando as várias Havanas que coabitam numa fachada de monolitismo e que às claras, saboreiam misturam e partilham gostos tão diversificados como morango, chocolate, Marx, Fidel, Hemingway e Maria Callas.
Aqui  não há apenas  uma denúncia da intolerância e  da marginalização dos homossexuais dentro e fora do partido. Diego é como que um espelho da sociedade cubana, um exemplo  da diferença e da diversidade e das imensas potencialidade que encerra. Representa a resistência face à massificante doutrina oficial que tende a subalternizar o individuo à lógica do grupo. David, por sua vez, é o rosto "puro" de uma revolução, ainda por cumprir na plenitude.
 
 

1 comentário:

  1. Vi este filme quando da sua comercialisação na europa e foi uma surpresa agradavel.Talvez um pouco caricatural reconheço,talvez um pouco previsivel mas fresco e com atores muito bons ,com pormenores que julguei não serem permitidos dado serem tremendamente criticos pqara um regime que tentava uma timida abertura.Recomendo vivamente.

    ResponderEliminar