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domingo, 30 de junho de 2013

☑ UM CORAÇÃO NO INVERNO, de Claude Sautet

Um filme para todas as estações

"Un coeur en hiver"
França (1992).
De Claude Sautet, com Daniel Auteuil, Emmanuelle Béart, André Dussollier e Brigitte Catillon.
Drama. Romance. Música. 105 minutos. Cor.
Sinopse:
Stephane (Daniel Auteuil) é um circunspecto reparador de violinos que trabalha para Maxime (André Dussollier).Camille (Emmanuelle Béart) é uma talentosa violinista com quem Maxime inicia uma relação. No entanto, Camille apaixona-se pelo fleumático Stephane...






 "Um coração no Inverno" é um filme provocador sobre relações afectivas  complexas. Stephane, é um reputado mestre na reparação de violinos, trabalho a que dedica grande parte do seu tempo e energia, em tarefas que exigem minúcia, delicadeza  e precisão. Fora do trabalho, tem uma relação de proximidade com Maxime o seu chefe, que lhe retribui  com amizade e confiança.Tendo-o como confidente, Maxime segreda-lhe que iniciara recentemente uma relação com Camille, uma virtuosa e bela violinista, que conhecera precisamente a propósito de um restauro do seu violino.
Daniel Auteuil, dá corpo e alma a Stephane, um "voyeur" social, que estuda todas as pessoas da sua envolvência, dissecando com a mesma argúcia e pormenor que demonstra no seu "metier", o seu comportamento e histórias de vida. Mas ele tem um problema: é incapaz de sentir afectividade e intimidade emocional com as pessoas, não se coibindo de confessar, a certa altura da narrativa, da forma mais fria e chocante, que Maxime, é uma pessoa como as demais à qual não devota especial afeição. E mais ainda, de forma categórica assumindo a nula retribuição amorosa face a  Camille que se lhe declara apaixonada, numa das mais assombrosas cenas do filme.
Desta forma, fica constituído um trio relacional muito peculiar, envolvendo uma perfeita simbiose entre dois homens e a inclusão de uma mulher, que neste filme ao contrário do esperado, não é o vértice do triângulo onde converge a pulsão amorosa, porque é de uma geometria variável de afectos, que este filme trata. E os "trios de Ravel", omnipresentes no filme, não no seu fundo como uma vulgar banda sonora, mas em primeiríssimo plano, não nos cansam de lembrar, da incessante procura de uma harmonia, muitas vezes posta em causa.
O grande perigo da forte carga simbólica associada a estas personagens, degenerar em simples representações de arquétipos e não de pessoas reais, é desfeito pelo trabalho perfeccionista de Auteuil, Béart e Dussollier, que mergulharam plenamente nos seus caracteres e os dotaram de intensidade e sofisticação emocional assinanável: Auteuil, tal como a sua personagem, brilhante nos pequenos pormenores; Béart a beleza fulgurante, com o profissionalismo exemplar, que a levaram a ter três meses de aulas de violino, para convincentemente nos enganar; Dussollier, com a mais valia da sua experiência e sobriedade.
Um filme precioso e único, que tal como um belo violino, talvez não dispensasse aqui e ali uma subtil afinação mas mesmo assim perto da perfeição.

sábado, 29 de junho de 2013

☑ PARIS PERTENCE-NOS, de Jacques Rivette

Um cinema de imagens conspiradoras 


"Paris nous appartient"
França (1961).
De Jacques Rivette, com Betty Schneider, Giani Esposito, Françoise Prévost, Daniel Crohem e François Maistre.
Mistério/Thriller psicológico e metafísico.
Film-noir.141 minutos. Preto e branco.
Sinopse:
Anne é uma estudante de literatura em 1957, em Paris.O seu irmão Pierre leva-a a uma festa onde se encontra Philip Kaufman, um americano exilado do McCarthismo e Gerard um dramaturgo acompanhado da sua misteriosa mulher Tierry. A conversa da festa era monopolizada pelo  aparente suicídio de Juan, um activista Espanhol, que recentemente se tinha separado de Tierry. Seduzida por Gerard que estava a montar a peça de shakespeare "Pericles", Anne toma parte no elenco e tenta descobrir a razão da morte de Juan.


No seu filme de 1959, "Os quatrocentos golpes", François Truffaut, a dada altura, põe  personagens seus a falarem de um filme, "Paris pertence-nos", objecto de uma ida ao cinema, por parte do adolescente Antoine e dos seus pais e de algumas considerações a seu propósito por parte dos membros daquela família. Após a sugestão da ida ao cinema ver esse filme, por parte da mãe, o pai de Antoine refere tratar-se de um filme sobre "um complot" e após a sua visualização, no regresso para casa, Antoine diz tratar-se de um "filme difícil mas com muito conteúdo".
Isto é curioso, porque o filme "Paris pertence-nos" estreou em 1961, enquanto o de Truffaut que o desvendou, deu à luz dois anos antes...Não fossem Truffaut e Rivette dois velhos "compagnons de routes" das diatribes da "nouvelle vague" e dois ex-escribas de penas afiadas do "Cahiers do Cinema" e dir-se-ia estarmos perante um enigma, de contornos semelhantes aos desenhados pelo argumento do filme de Rivette, na verdade escrito nos anos 50, antes dos "400 golpes" e só estrelando na tela em 1961...
Este episódio também é revelador de um certo ambiente de fraternidade sacerdotal da "nouvelle vague", não estranhando que  Godard e Chabrol, tivessem direito aos seus fotogramas de "cameos", neste filme.
Este filme, anda de facto, à volta de um "complot", uma teoria da conspiração de contornos absurdos e paranóides, que une grande parte dos seus personagens, quase todos eles intelectuais boémios, artistas, atores, escritores e activistas/exilados políticos, muito dentro da tradição Parisiense de centro de discussão e agitação políticas, iluminando o significado do título do filme, por um lado relevando a cidade da discussão das ideias e por outro o ideário de conquista ideológica que lhe subjaz. 
Mas também é claro que neste filme perpassa um clima de ressaca e de mal estar ideológico, após as promessas não cumpridas do pós-guerra e não nos devemos esquecer, que estamos próximos do Maio de 1968. 
Em paralelo com a trama de film-noir metafísico, alguns personagens encenam e representam uma peça de Shakespeare ("Péricles, príncipe de Tiro"), numa estrutura algo atípica para a nova vaga, em que a bandeira do cinema de autor relega para um lugar secundário a contribuição da literatura. O mesmo se pode dizer das alusões filosóficas a Goethe, Moliére, Sartre e Camus, que alavancam a nova vaga para novas abordagens.
Não nos parece forçado vislumbrar no subconsciente das personagens do filme, reminiscências psicanalíticas, sob a forma de uma percepção adulterada e auto-induzida pelo desejo, mais tarde gabada abundantemente na cinematografia de autores como David Lynch e Raoul Ruiz.
A música marca com o seu ritmo repetitivo e anárquico o absurdo dos diálogos. O resto do "mood" monótono do filme de Rivette é propiciado por uma cinematografia a preto e branco em tons lúgubres, fazendo  um uso  demasiado previsível da luz e das sombras, em  longos planos-sequências, tornando este longuíssimo filme algo indigesto, o qual  não obstante  toda a energia do realizador se situa uns  furos abaixo da média luminosa dos primeiros exemplares da "new wave".

GODARD NUM "CAMEO" DE "PARIS NOUS APPARTIENT"



☑ OS QUATROCENTOS GOLPES, de François Truffaut

Truffaut não se esqueceu de esvaziar o lixo do cinema

"Les quatre cents coups"
França (1959).
De François Truffaut, com Jean-Pierre Léaud, Claire Maurier, Albert Rémy e Guy Decomble.
Drama.99 minutos. Preto e branco.
Sinopse:
Antoine Doinel, é um rapaz adolescente, que   vive em Paris no fim dos anos 50. Com  deficiente acompanhamento familiar, falta à escola, foge de casa e inevitavelmente  desliza para um tipo de vida marginal, levando à sua prisão numa casa de correção.

 



"Faire les 400 coupes", é uma expressão idiomática da língua Francesa que significa ficar-se enraivecido ou selvagem, perante uma hipotética injustiça. Portanto, tanto a tradução literal para o inglês ("The 400 blows") como a correspondente  portuguesa ("Os quatrocentos golpes"), enfermam da mesma falta de rigor. A tradução brasileira ("Os incompreendidos") anda mais perto do sentido original.
Esta é a primeira longa metragem de François Truffaut, depois de duas curtas ("Une visite", de 1955 e "Les mistons", de 1957) e um dos primeiros exemplares da "Nouvelle vague". 
O argumento, com um cunho assumidamente autobiográfico, aborda os problemas do adolescente Antoine Doinel, nos anos 50 em Paris, uma cidade de aspeto e condições de vida, bem diferentes da magnificiência propagandeada nos postais para turista ver. Antoine vive num acanhado apartamento, com a sua mãe adúltera e o seu pai egocêntrico, que não lhe concedem a atenção devida. "Não te esqueças do lixo" é a recomendação que mais ouve dos pais. E o seu alter ego,  Truffaut il meme, não se esqueceu de esvaziar do filme, todos os restos  dos idealismos e romantismos, que inevitalmente se associam aos filmes retratando situações de marginalidade envolvendo  crianças e adolescentes.
É um filme que não desvia o olhar do cruel e amoral, marca típica da "nouvelle vague" e do "cinema verité". No minúsculo lar de Antoine, a câmara de mão de Truffaut, capta o essencial de um quotidiano ordinário. Nas cenas de rua, a Paris que não figura nos postais é mostrada sem rodeios através dos movimentos arrojados da câmara, quer sejam magníficos "travelings" ou abismais "over-angle shots". Quando os transeuntes são apanhados a contemplarem a rodagem das cenas, isso não é cortado, numa honestidade e genuinidade muito típicas da nova vaga, que aposta na desmistificação da linguagem cinematográfica.
Um filme que respira autenticidade e emoção pura, capturada na sua essência no belíssimo plano sequência final e no seu derradeiro e estático fotograma com que se despede e enigmaticamente nos contempla.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

☑ O DESPREZO, de Jean-Luc Godard

 
Por dentro do cinema

"Le mépris"
França, Itália (1963).
De Jean-Luc Godard, com Michell Piccoli, Brigitte Bardot, Jack Palance e Fritz Lang.
Argumento de Jean-Luc Godard, baseado no Romance de Alberto Moravia "Il Disprezzo" (O desprezo), de 1954. Fotografia: Raoul Coutard. Música instrumental de Georges Delerue.
Drama.103 minutos. Cor.
Sinopse:
No processo de preparação de um filme sobre a Odisseia, realizado por Fritz Lang, discordâncias entre o realizador e o produtor americano Jeremy Prokosch (Jack Palance), levaram a que fosse contratado o escritor de novelas policiais, Paul Javal (Michell Piccoli) para a elaboração do guião. Camille (Brigitte Bardot), a mulher do argumentista, é assediada pelo produtor, aparentemente com a complacência interesseira do marido, acabando tal facto por minar o seu casamento.
 
Um filme sobre um filme ou o cinema visto por si próprio. 
O início do filme, sem créditos legíveis, substituídos pela voz em off do próprio Godard que exibe os meios técnicos na rodagem do filme, é a prova desta desconstrução e auto-crítica do processo cinematográfico, exposto por dentro das suas contradições e desmontado dos seus artificialismos e clichés, que faz parte do genoma da "nouvelle vague" e do "cinema verité". 
Neste seu sexto filme, Jean-Luc Godard, não esconde o incómodo por uma grande produção, a cargo de Joseph Levine, que lhe impôs uma técnica que abominava (O cinemaScope) e algumas extravagâncias comerciais, como a cena erótica com  Brigitte Bardot no início do filme. Estes constrangimentos deram-lhe o mote para de forma cínica e mordaz, desenvolver em negativo a apologia do cinema de autor. 
Fritz Lang, o grande cineasta alemão - um diretor alemão, porque um alemão descobriu Troia, explicou-nos a certa altura, o arrogante produtor americano... Lang, ele mesmo, já práticamente cego, oferece-nos neste filme, uma rara presença  de mestria e genuinidade e só por isso, o filme já valeria o "bilhete". Representa a pureza do "cinema de autor", permanentemente sujeito às interferências e adulterações externas a cargo dos interesses comerciais dos grandes estúdios e de argumentistas bem intencionados mas impreparados.
A história da desintegração do casamento de Paul e Camille, casal magnificamente composto por  Piccoli e Bardot, é contada  em paralelo e aqui e ali com algumas tangentes e secantes com subtexto filosófico em fundo, com a lenda de Ulisses e Penélope na Odisseia, o tema do filme rodado dentro do nosso filme. Movida por intuitos  comerciais, a produção, estimula um carácter mais comercial do guião, ao optar pela  tese revisionista  defendendo que Ulisses, demorou 10 longos anos a regressar  a Ítaca, não porque estivesse traumatizado pela guerra e se perdesse pelo caminho, mas ao invés demonstrando um profundo ressentimento  pelo desprezo a que teria sido votado por Penélope antes da guerra.
Uma fotografia preciosa de Raoul Coutard, assente numa palete minimalista de vivíssimas cores primárias, realçando em fundo as bem estudadas coreografias do casal Paul e Camille, no seu apartamento, em longuíssimos takes, no que pode ser encarado como influência de Antonioni e da sua trilogia da alienação.
Interessantes são ainda os aspetos técnicos de uma montagem à "nouvelle vague", com a incorporação de "flaschbacks e flasforwards" contrastando com a longa duração das tomadas, bem com o uso da música  como fundo dissonante no processo de dissolução afectiva.
E claro, fica muito bem neste retrato crítico sobre o cinema, uma revisita nostálgica à cinecittà romana, distante  dos seus tempos de esplendor... 


domingo, 23 de junho de 2013

ALGUMAS NOTAS SOBRE O CINEMA FRANCÊS


Pode-se apreciar um filme ignorando o contexto ?
A resposta é: sim, mas...
Ver um filme é uma experiência antes de tudo sensorial. Nesse ponto de vista, o mais importante é o fruir das imagens ( e dos sons se for caso disso) que em sequência rápida, estimulam os nossos sentidos e despertam emoções.
Mas essa experiência é tanto mais rica, quanto reflectida a um nivel cognitivo e daí, a resposta à questão colocada antes.
No caso do cinema Francês, importa traçar um breve contexto histórico e sócio-político.
1. Primórdios
Alguns marcos importantes: 
 

Louis Lumière - "La Sortie des usines Lumière à Lyon" (1895) - talvez o primeiro filme. Dura apenas 46 segundos.




 

Georges Meliès - "La voyage dans la lune" (1902)
















Georges Meliès - "Le voyage à travers l'impossible" (1904)













2. Cinema de autor/Cinema de  vanguarda (anos 20 e inícios de 30) 
O cinema impõe-se como uma obra de um autor, geralmente alguém ligado ou influenciado pelas correntes vanguardistas da época, como o Surrealismo, Dadaísmo, Impressionismo e Cubismo. Os aspetos relevantes desta estética eram o ritmo e o movimento, realçados por técnicas inovadores de iluminação e novos angulos de câmara. As temáticas abordadas fugiam aos gostos comerciais, procurando causar um forte impacto visual. Considerada uma arte  degenerada e decadente, os seus seguidores acabaram por ser alvo dos regimes totalitários, que começaram a emergir na década de 30, pelo que este movimento perdeu força em França. 
Alguns exemplos emblemáticos:
René Clair - "Entr'act" -1924 (Entreacto). 
Uma curta.
 
 






 

Abel Gance- "Napoleon" - 1927
(Napoleão).
Talvez o primeiro exemplar significativo do Impressionismo no cinema.












Luis Buñuel & Salvador Dali- "Un Chien Andalou"-1929 
(Um cão Andaluz). 
Incursão do Surrealismo  no cinema, da autoria destes dois Espanhois "afrancesados".
  









3-Realismo poético Francês
Com o advento dos filmes falados, em 1927, tornou-se cada vez mais importante o  texto, em geral a partir de obras literárias, adquirindo realce progressivo a figura do argumentista e simultaneamente desaparecendo o conceito de cinema de autor, centrado no realizador. As temáticas passaram a ser mais realistas, procurando espelhar os aspetos socioeconómicos, sob a forma de melodramas pessimistas com enredo policial.
1ª fase:
Em plena crise económica resultante da grande depressão e já com a ameaça dos fascismos no horizonte, surgiram as primeiras obras que romperam com a estética vanguardista. O primeiro exemplo, ou filme zero deste movimento, ainda que sem a forte componente social que marcaria esta corrente, é a obra de Jean Vigo, "L'Atalante"(O Atalante) (1934), uma abordagem poética da viagem fluvial de um casal em lua de mel.
Após este filme, a tónica passa a ser  mais colocada em temas sociais, sobressaindo histórias protagonizadas por operários e desempregados, lutando por melhores condições de vida.
Exemplos marcantes desta fase: 
Jean Renoir - "La grande illusion" (A grande ilusão) (1937) 
Jean Renoir - "La regle du jeu" (A regra do jogo) (1939)



2ª fase:
Com a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e o avanço do Fascismo, há uma mudança de perspectiva dos guiões, com maior enfase no medo e no desânimo, prenunciando o clima derrotista que perpassou pela sociedade Francesa durante a segunda grande guerra. Emergiram as personagens marginais, como delinquentes e desertores, que procuravam lutar em vão contra a desgraça das suas vidas.
Exemplos desta fase:
Marcel Carné - "Hotel du nord" (Hotel do Norte) (1938)
Marcel Carné - "Le quai des brumes" ( O cais das brumas) (1938)





















3ª fase (decadência):
Com o início da Segunda Grande Guerra em 1939 e a invasão de Paris pelos alemães em 1941, origina-se o exílio dos cineastas Franceses e este movimento cinematográfico entra em declínio, assistindo-se ainda ao lançamento de obras importantes como a seguinte:
Marcel Carné - "Les enfants du paradis" (  Os rapazes da geral) (1946)
Este movimento influenciou o "film noir" americano, género policial, retratando personagens cínicas, imersas em ambientes de corrupção e de devassidão. As histórias de desempregados e de operários, lutando por melhores condições de vida, também seriam retomadas no neo-realismo Italiano.
A "nouvelle vague" que se seguiu a este movimento, contestava a reduzida enfase no cinema de autor do realismo poético e desvalorizava alguns dos seus nomes importantes  como Jean Delannoy, embora autores como Jean Vigo, Jean Renoir e Marcel Carné, fossem de certa forma intocáveis.
Jean Delannoy - "La Symphonie pastorale"-1946 
( A sinfonia pastoral)
Outras referências incontornáveis:
Jean Cocteau - "Orphée"- 1950 (Orfeus)


Henri-Georges Clouzot - "Le salaire de la peur"-1953 (O salário do medo)

















4-Nouvelle Vague
A expressão foi cunhada em 1958 na revista L'Express e abrange um movimento artístico com epicentro nos contestatários anos 60. Os primeiros cineastas desta corrente faziam filmes verdadeiramente independentes pois não tinham grandes apoios dos estúdios de cinema. O movimento inicia-se com a decadência do realismo poético, onde a importância do argumentista face ao realizador era contestada  por estes jovens turcos, em grande parte oriundos da crítica de filmes nos "Cahier de cinema" e noutras publicações. 

Nomes como Claude Chabrol, Jean-Luc Godard, François Truffaut,  Jacques Rivette, Alain Resnais e Eric Rohmer,  içavam  agora a bandeira do cinema de autor. Mas outras caracteristicas marcavam também a ruptura com o realismo poético, principalmente na estrutura da narrativa, rejeitando-se a linearidade e inovando-se na montagem. Os temas realistas foram revestidos por uma amoralismo típico desta geração, expressos em diálogos crús e despidos de retórica, onde se relevava a vertente psicológica das personagens através do que faziam e diziam, incluindo as impressões mais banais do seu quotidiano. A personagem sobressaía dos aspetos formais  da cena. Este movimento,  rejeitava o conceito de escola de cinema, optando mesmo pela sátira do artificialismo da própria linguagem cinematográfica e dos seus clichés, expresso em cenas intencionais em que  se insinuavam ou não se escondiam os meios técnicos, ideia subversiva que era uma marca de água desta nova vaga.
O primeiro filme desta corrente pode ser considerado "Le beau Serge" (Um vinho difícil) (1958), de Claude Chabrol.
Como a lista é muito extensa, seguem-se a título ilustrativo e com cunho pessoal, apenas alguns exemplos de filmes desta corrente.
François Truffaut - "Les Quatre Cents Coups" (Os quatrocentos golpes) (1959)
Jacques Rivette - "Paris nous appartient" (Paris pertence-nos) (1961)

Jean-Luc Godard - "Le Mepris" (O desprezo) (1963)

5. Da "Nouvelle Vague" até à actualidade
A nova vaga abriu horizontes ao cinema Francês e constituiu fonte de inpiração para outras gerações de autores que lhe acrescentaram sensibilidades especiais e o tornaram num campo deveras fértil. Segue-se uma lista muito pessoal de filmes de várias tendências e gerações.

Louis Malle - "Ascenseur pour L'echafaud"-1958 
 (Fim-de-semana no ascensor)




















Jacques Tati - "Mon oncle"-1958 (O meu tio)
 



















Georges Franju - "Les yeux sans visage"-1960 (Olhos sem rosto)




















Jacques Becker - "Le trou"-1960 (O buraco)





















Jacques Demy - "Lola"-1961





















Alain Resnais - "L'année dernière à Marienbad"-1961
(O último ano em Marienbad)






















Maurice Pialat - L'enfance nue"-1968 (Infância nua)




















Eric Rohmer - "Ma nuit chez Maud"-1969
(A minha noite em casa de Maud)





















Jean-Pierre Melville - "L'armée des ombres"-1969 
(O exército das sombras)



















Robert Bresson - "Quatre nuits d'un rêveur"-1971 
(As quatro noites de um sonhador)





















Jean-Jacques Beineix - "Diva"-1981 
(A diva e os Gangsters)
"Cinema do look" : estilo atractivo e superficial, com intuitos comerciais e com enfase na alienação das principais personagens.
















Bertrand Tavernier - "Un dimanche à la campagne"-1984   (Um domingo no campo)


Persistência de elementos do realismo poético.



















Agnès Varda - "Sans toit ni loi"-1985 (Sem eira nem beira)












  








Claude Berri - "Jean de Florette"-1986

Mantém muitas características do realismo poético...



















Jean-Paul Rappeneau - "Cyrano de Bergerac"-1990 

Leos Carax - "Les amants du Pont-Neuf"-1991 (Os amantes da ponte nova)

"Cinema do look"...




















Claude Sautet - "Un coeur en Hiver"-1992 (Um coração no Inverno)
















Bruno Dumont - "L'Humanité"-1999 (Humanidade)

Grande prémio do Juri em Cannes 1999. Festival presidido por David Cronenberg...
A sensibilidade mais alternativa e radical do cinema Francês actual.


















Patrice Leconte - "La veuve de Saint-Pierre"-2000 (A viúva de Saint-Pierre)





















François Ozon - "Sous le sable"-2000 (Sob a areia)






















Jacques Audiard - "Sur mes lèvres"-2001 (Nos meus lábios)




















Jean-Pierre Jeunet - "Le fabuleux destin d'Amélie Poulain"-2001 (O fabuloso destino de Amelie)























Tony Gatlif - "Exils"-2004 (Exílios)




















Laurent Cantet - "Entre les murs"-2008 (A turma)

Palma de Ouro em Cannes 2008.Nomeado para o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009.


















Olivier Assayas - "L'heure d'été"-2008 (Tempos de verão)






















Claire Denis - "35 rhums"-2008 (35 shots de rum)
O cinema Francês mais profundo e enigmático passa por Claire Denis.



















Xavier Beauvois - "Des hommes et des dieux"-2010 (Dos homens e dos deuses)




















Mathieu Amalric - "Tournée"-2010 (Tournée - Em digressão)


 


 











Olivier Nakache e Eric Toledano - "Intouchables"-2011 (Amigos improváveis)
Um enorme sucesso caseiro e internacional.
"Look like" style...

















Alguns realizadores franceses optaram por trabalhar fora da França, sobretudo nos EUA e usando preferencialmente o Inglês em vez do Francês.

Jacques Tourneur - "Out of the past"-1947 (O arrependido)
Film-Noir.



















Luc Besson - "The fifth element"-1997 (O 5º elemento)

"Cinema do look", com pose à Hollywood...
 Se quisermos ser mauzinhos com Besson diremos "Cinema do Luc"...

















Roman Polanski- "The pianist"-2002 (O pianista)





















Michel Hazanavicius - "The artist"-2011 (O artista)

Cinema bem feito...para Oscares.















E ainda a ter em conta:
Marcel Camus, René Clément, Jacques Rozier, Alain Corneau, Claude Miller, Roger Vadin, Alain Cavalier, Yves Robert, Patrice Chéreau, Laurence Ferreira Barbosa, Lucas Belvaux, Bertrand Blier, Claude Lelouch, André Techiné, Cyril Collard, Benoit Jacquot, Philippe Lioret, Régis Wargnier, Jean-Jacques Annaud, Cédric Kahn, Cédric Klapisch, Jean-Claude Brisseau, Erick Zonca, Martin Provost, Jean-Pierre Améris, Catherine Breillat, Christophe Barratier, Rémi Bezançon, Bertrand Bonello, Rachid Bouchareb, Sylvain Chomet, Philippe Claudel, Julie Delpy, Christophe Honoré, Agnès Jaoui, Gustave de Kervern, Robert Guédiguian, Arnaud Larrieu, Vincent Paronnaud, Marina de Van, Céline Sciamma, Joann Sfar, Yann Samuell...e muitos outros !...

Em resumo:
Esta foi uma rápida mostra do cinema Francês, pondo a tónica no seu enquadramento histórico, sócio-político e cultural.