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terça-feira, 22 de outubro de 2013

☑ O GANGUE DE HOLLYWOOD, de Sofia Coppola

Os donos do vazio


"The bling ring" - título original em inglês.
"O gangue de Hollywood" - Título  em Português.
Origem: EUA (2013). Linguagem : Inglês.
Realização: Sofia Coppola.
Argumento: Sofia Coppola & Nancy Jo Sales (baseado no artigo desta na Vanity Fair : "The suspect wore Louboutins" ).
Com: Katie Chang, Israel Broussard, Emma Watson, Claire Julien & Taissa Farmiga.
Cinematografia: Christopher Blauvelt & Harris Savides. Direção Musical: Daniel Lopatin & Brian Reitzell. Género: Biografia. Crime. Drama. 90 minutos. Cor.
Sinopse: Inspirado em factos reais. Um grupo de adolescentes, dos arredores de Los Angeles, obcecados com a fama, usam a internet para seguir celebridades, a fim de lhes roubar as suas mansões.


"Eu quero um dia  liderar um país". - Nicky, a filha.
" ...e assim é. Whooo..." -  frase com que Laurie, a mãe, finaliza as suas balelas espirituais, sobre "O segredo".

O argumento assenta num tripé manco: os adolescentes, os pais e os famosos. Neste filme, os adolescentes, não têm nada na cabeça a não ser a obsessão pela fama (e o proveito) dos famosos.
Os famosos, são escolhidos a dedo: todos são jovens, ricos, bonitos e com uma vida supostamente cheia e divertida.
Dos pais, apenas nos é permitido conhecer superficialmente uma das mães, a loira burra seguidora fiel do "segredo", os outros estão ausentes  da narrativa, uma conveniente metáfora do isolamento real a que são submetidos os filhos. Daí, este ser um tripé manco. 
Com estes pressupostos, a partir de uma história real, ocorrida entre 2008 e 2009 e relatada num artigo da Vanity Fair , por Nancy Jo Sales, co-argumentista deste filme, Sofia Coppola, construi uma narrativa consistente e carregada de sarcasmo em relação a um tema  bem contemporâneo, o fascínio e o seguidismo dos jovens em relação ao mundo dos famosos. E  esta cultura pós-pop da celebridade, deve muito a fenómenos relativamente emergentes como a Internet, as redes sociais, os smartphones e os "reality shows" da TV, por isso, na apresentação em Cannes, Sofia não podia ser mais clara, este filme não faria sentido há 10 anos atrás.
De forma perspicaz, a realizadora segue o modelo narrativo dos "reality-shows", sempre a partir de um ponto de vista exterior, com base nos corpos e nos seus gestos, ou seja nas aparências, sem perder tempo a explorar e a questionar a interioridade das personagens, olhar que apesar de algum afastamento, nunca revela frieza ou indiferença. Não faltam mesmo as poses, os close-ups e os "slow-motions", embalados com música pop, para o caso de estarmos distraídos e não saber onde estamos.
O mundo das celebridades e a sua relação com este "submundo" de aspirantes a famosos, realidades que se cruzam e perpetuam num feroz mutualismo e comensalismo mediáticos,  é também um alvo do olhar indiscreto e impiedoso de Sofia,  que  expõe a opulência e a frivolidade, deste modelo de vida.
Embora como efeito secundário, o filme  não resiste a um jogo provocador, insinuando-se como tentação e parecendo incitar um "olhar voyeur" sobre os objectos de desejo dos adolescentes - as casas, os carros, a decoração, a moda , as festas - espaços de beleza e sofisticação, que não são  habitados no filme, a não ser de passagem, pelos jovens, que se apropriam dos objectos como se fossem eles os donos.  Os donos do vazio. É como se os jovens nos fizessem uma visita guiada ao vazio, habitado temporariamente por eles.


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