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domingo, 30 de junho de 2013

☑ UM CORAÇÃO NO INVERNO, de Claude Sautet

Um filme para todas as estações

"Un coeur en hiver"
França (1992).
De Claude Sautet, com Daniel Auteuil, Emmanuelle Béart, André Dussollier e Brigitte Catillon.
Drama. Romance. Música. 105 minutos. Cor.
Sinopse:
Stephane (Daniel Auteuil) é um circunspecto reparador de violinos que trabalha para Maxime (André Dussollier).Camille (Emmanuelle Béart) é uma talentosa violinista com quem Maxime inicia uma relação. No entanto, Camille apaixona-se pelo fleumático Stephane...






 "Um coração no Inverno" é um filme provocador sobre relações afectivas  complexas. Stephane, é um reputado mestre na reparação de violinos, trabalho a que dedica grande parte do seu tempo e energia, em tarefas que exigem minúcia, delicadeza  e precisão. Fora do trabalho, tem uma relação de proximidade com Maxime o seu chefe, que lhe retribui  com amizade e confiança.Tendo-o como confidente, Maxime segreda-lhe que iniciara recentemente uma relação com Camille, uma virtuosa e bela violinista, que conhecera precisamente a propósito de um restauro do seu violino.
Daniel Auteuil, dá corpo e alma a Stephane, um "voyeur" social, que estuda todas as pessoas da sua envolvência, dissecando com a mesma argúcia e pormenor que demonstra no seu "metier", o seu comportamento e histórias de vida. Mas ele tem um problema: é incapaz de sentir afectividade e intimidade emocional com as pessoas, não se coibindo de confessar, a certa altura da narrativa, da forma mais fria e chocante, que Maxime, é uma pessoa como as demais à qual não devota especial afeição. E mais ainda, de forma categórica assumindo a nula retribuição amorosa face a  Camille que se lhe declara apaixonada, numa das mais assombrosas cenas do filme.
Desta forma, fica constituído um trio relacional muito peculiar, envolvendo uma perfeita simbiose entre dois homens e a inclusão de uma mulher, que neste filme ao contrário do esperado, não é o vértice do triângulo onde converge a pulsão amorosa, porque é de uma geometria variável de afectos, que este filme trata. E os "trios de Ravel", omnipresentes no filme, não no seu fundo como uma vulgar banda sonora, mas em primeiríssimo plano, não nos cansam de lembrar, da incessante procura de uma harmonia, muitas vezes posta em causa.
O grande perigo da forte carga simbólica associada a estas personagens, degenerar em simples representações de arquétipos e não de pessoas reais, é desfeito pelo trabalho perfeccionista de Auteuil, Béart e Dussollier, que mergulharam plenamente nos seus caracteres e os dotaram de intensidade e sofisticação emocional assinanável: Auteuil, tal como a sua personagem, brilhante nos pequenos pormenores; Béart a beleza fulgurante, com o profissionalismo exemplar, que a levaram a ter três meses de aulas de violino, para convincentemente nos enganar; Dussollier, com a mais valia da sua experiência e sobriedade.
Um filme precioso e único, que tal como um belo violino, talvez não dispensasse aqui e ali uma subtil afinação mas mesmo assim perto da perfeição.

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