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sábado, 29 de junho de 2013

☑ PARIS PERTENCE-NOS, de Jacques Rivette

Um cinema de imagens conspiradoras 


"Paris nous appartient"
França (1961).
De Jacques Rivette, com Betty Schneider, Giani Esposito, Françoise Prévost, Daniel Crohem e François Maistre.
Mistério/Thriller psicológico e metafísico.
Film-noir.141 minutos. Preto e branco.
Sinopse:
Anne é uma estudante de literatura em 1957, em Paris.O seu irmão Pierre leva-a a uma festa onde se encontra Philip Kaufman, um americano exilado do McCarthismo e Gerard um dramaturgo acompanhado da sua misteriosa mulher Tierry. A conversa da festa era monopolizada pelo  aparente suicídio de Juan, um activista Espanhol, que recentemente se tinha separado de Tierry. Seduzida por Gerard que estava a montar a peça de shakespeare "Pericles", Anne toma parte no elenco e tenta descobrir a razão da morte de Juan.


No seu filme de 1959, "Os quatrocentos golpes", François Truffaut, a dada altura, põe  personagens seus a falarem de um filme, "Paris pertence-nos", objecto de uma ida ao cinema, por parte do adolescente Antoine e dos seus pais e de algumas considerações a seu propósito por parte dos membros daquela família. Após a sugestão da ida ao cinema ver esse filme, por parte da mãe, o pai de Antoine refere tratar-se de um filme sobre "um complot" e após a sua visualização, no regresso para casa, Antoine diz tratar-se de um "filme difícil mas com muito conteúdo".
Isto é curioso, porque o filme "Paris pertence-nos" estreou em 1961, enquanto o de Truffaut que o desvendou, deu à luz dois anos antes...Não fossem Truffaut e Rivette dois velhos "compagnons de routes" das diatribes da "nouvelle vague" e dois ex-escribas de penas afiadas do "Cahiers do Cinema" e dir-se-ia estarmos perante um enigma, de contornos semelhantes aos desenhados pelo argumento do filme de Rivette, na verdade escrito nos anos 50, antes dos "400 golpes" e só estrelando na tela em 1961...
Este episódio também é revelador de um certo ambiente de fraternidade sacerdotal da "nouvelle vague", não estranhando que  Godard e Chabrol, tivessem direito aos seus fotogramas de "cameos", neste filme.
Este filme, anda de facto, à volta de um "complot", uma teoria da conspiração de contornos absurdos e paranóides, que une grande parte dos seus personagens, quase todos eles intelectuais boémios, artistas, atores, escritores e activistas/exilados políticos, muito dentro da tradição Parisiense de centro de discussão e agitação políticas, iluminando o significado do título do filme, por um lado relevando a cidade da discussão das ideias e por outro o ideário de conquista ideológica que lhe subjaz. 
Mas também é claro que neste filme perpassa um clima de ressaca e de mal estar ideológico, após as promessas não cumpridas do pós-guerra e não nos devemos esquecer, que estamos próximos do Maio de 1968. 
Em paralelo com a trama de film-noir metafísico, alguns personagens encenam e representam uma peça de Shakespeare ("Péricles, príncipe de Tiro"), numa estrutura algo atípica para a nova vaga, em que a bandeira do cinema de autor relega para um lugar secundário a contribuição da literatura. O mesmo se pode dizer das alusões filosóficas a Goethe, Moliére, Sartre e Camus, que alavancam a nova vaga para novas abordagens.
Não nos parece forçado vislumbrar no subconsciente das personagens do filme, reminiscências psicanalíticas, sob a forma de uma percepção adulterada e auto-induzida pelo desejo, mais tarde gabada abundantemente na cinematografia de autores como David Lynch e Raoul Ruiz.
A música marca com o seu ritmo repetitivo e anárquico o absurdo dos diálogos. O resto do "mood" monótono do filme de Rivette é propiciado por uma cinematografia a preto e branco em tons lúgubres, fazendo  um uso  demasiado previsível da luz e das sombras, em  longos planos-sequências, tornando este longuíssimo filme algo indigesto, o qual  não obstante  toda a energia do realizador se situa uns  furos abaixo da média luminosa dos primeiros exemplares da "new wave".

GODARD NUM "CAMEO" DE "PARIS NOUS APPARTIENT"



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