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sábado, 29 de junho de 2013

☑ OS QUATROCENTOS GOLPES, de François Truffaut

Truffaut não se esqueceu de esvaziar o lixo do cinema

"Les quatre cents coups"
França (1959).
De François Truffaut, com Jean-Pierre Léaud, Claire Maurier, Albert Rémy e Guy Decomble.
Drama.99 minutos. Preto e branco.
Sinopse:
Antoine Doinel, é um rapaz adolescente, que   vive em Paris no fim dos anos 50. Com  deficiente acompanhamento familiar, falta à escola, foge de casa e inevitavelmente  desliza para um tipo de vida marginal, levando à sua prisão numa casa de correção.

 



"Faire les 400 coupes", é uma expressão idiomática da língua Francesa que significa ficar-se enraivecido ou selvagem, perante uma hipotética injustiça. Portanto, tanto a tradução literal para o inglês ("The 400 blows") como a correspondente  portuguesa ("Os quatrocentos golpes"), enfermam da mesma falta de rigor. A tradução brasileira ("Os incompreendidos") anda mais perto do sentido original.
Esta é a primeira longa metragem de François Truffaut, depois de duas curtas ("Une visite", de 1955 e "Les mistons", de 1957) e um dos primeiros exemplares da "Nouvelle vague". 
O argumento, com um cunho assumidamente autobiográfico, aborda os problemas do adolescente Antoine Doinel, nos anos 50 em Paris, uma cidade de aspeto e condições de vida, bem diferentes da magnificiência propagandeada nos postais para turista ver. Antoine vive num acanhado apartamento, com a sua mãe adúltera e o seu pai egocêntrico, que não lhe concedem a atenção devida. "Não te esqueças do lixo" é a recomendação que mais ouve dos pais. E o seu alter ego,  Truffaut il meme, não se esqueceu de esvaziar do filme, todos os restos  dos idealismos e romantismos, que inevitalmente se associam aos filmes retratando situações de marginalidade envolvendo  crianças e adolescentes.
É um filme que não desvia o olhar do cruel e amoral, marca típica da "nouvelle vague" e do "cinema verité". No minúsculo lar de Antoine, a câmara de mão de Truffaut, capta o essencial de um quotidiano ordinário. Nas cenas de rua, a Paris que não figura nos postais é mostrada sem rodeios através dos movimentos arrojados da câmara, quer sejam magníficos "travelings" ou abismais "over-angle shots". Quando os transeuntes são apanhados a contemplarem a rodagem das cenas, isso não é cortado, numa honestidade e genuinidade muito típicas da nova vaga, que aposta na desmistificação da linguagem cinematográfica.
Um filme que respira autenticidade e emoção pura, capturada na sua essência no belíssimo plano sequência final e no seu derradeiro e estático fotograma com que se despede e enigmaticamente nos contempla.

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