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sábado, 6 de abril de 2013

THOMAS VINTERBERG: UM CINEMA QUE NÃO PERDE O NORTE




Thomas Vinterberg, nasceu em Copenhaga, em 19 de Maio de 1969.
Cresceu numa comunidade hippie, onde era habitual o nudismo.
O cinema foi uma escolha natural na sua vida, num país e numa região, com uma grande tradição cinematográfica, exemplificada nas grandes figuras do cinema escandinavo, como os  suecos Victor Sjostrom e Ingmar Bergman e o seu compatriota Carl Theodor Dreyer , as suas referências mais imediatas. Numa entrevista recente, Vinterberg confessa que revê sempre  Fanny e Alexandre de  Bergman, sempre que prepara um novo projecto.
Formou-se em cinema, pelo  National Film School of Denmark, tendo o  seu filme de graduação, Last Round (1993), merecido um aplauso unânime dos meios académicos e da crítica, facto que lhe serviu de decisiva rampa de lançamento no grande auditório global do cinema.
Em 1995, foi um dos "irmãos" mais entusiastas do Manifesto Dogma 95, que formou com o "patriarca" Lars Van Trier. Este conjunto de regras, visava valorizar a pureza do filme, expurgando-o dos artifícios técnicos estranhos à cena, como  a luz artificial e o som extrínseco incluia ainda outras bizarrias como a limitação do campo de ação e de certos usos das camaras, a proibição de filtros e a interdição da ação desnecessária ao enredo, como visualização de armas ou assassínios. E claro, numa demontração de suprema humildade, a roçar a  vaidade mais ostentatória, a proibição de figurar o nome do realizador nos créditos do filme !...
O seu  filme, A festa (1998), o primeiro segundo o novo cânone Dogma, foi um estrondoso sucesso, com montes de prémios, incluindo o prémio do júri do Festival de Cannes, na categoria de realizador. Sucesso da crítica mas também das audiências, atestado pelo seu 8.1 no IMDB.

 Realmente, uma lufada de ar fresco de puro cinema ! Um excelente argumento no qual colaborou activamente o próprio TV. Uma prestigiada família, reunida para celebrar os 60 anos do seu patriarca, vê-se confrontada, pouco a pouco, com o seu desmembramento apoteótico, ao serem reveladas as mentiras mais  perturbantes do seu passado e presente. TV, começa aqui a desenvolver um dos seus temas preferidos: a representação da vulnerabilidade individual face aos abusos do poder, neste caso de ordem afectiva e sexual. Sem dúvida o melhor filme Dogma. Mas TV, confessa hoje, que fez alguma batota, usando alguns artifícios "proibidos", tapando por exemplo a luz de uma janela. De qualquer forma o melhor do Dogma, está aqui, deixando a excelente narrativa valer-se por si própria.
Justo é também fazer uma referência ao grande exercício de representação, sobretudo de  Ulrich Thomsen.
(*****)

Perante os elogios generalizados, TV sentiu-se de certa forma, como um jogador de futebol, que tivesse marcado um golo genial, como ele descreveu recentemente numa entrevista ao Público (Ipsilon, 8 de Março de 2013). A fasquia estava realmente alta e TV, pronto a descer à terra e enfrentar a frieza e a decepção, com que foram recebidos os seus filmes seguintes. A um cineasta, tal como, de resto,  a um escritor,  que queira construir uma "obra" coerente, com várias temáticas e perspectivas distintas, mas unidas por fios condutores comuns, raramente lhe são perdoadas abordagens menos comprometidas e quiça mais superficiais de uma realidade em permanente mutação.
Após algumas experiências pouco reconhecidas na area da televisão, TV regressa ao grande ecran, com uma incursão americana, através do drama surrealista, passado num futuro caótico It´s all about Love ( O amor é tudo) (2003).
 
O argumento não é tão mau como o pintam, embora manifestamente estranho e pouco plausível. Mas isto não é cinema, onde é suposto, tudo ser possível ? 
Num futuro próximo, o mundo arrefece progressivamente. Não só o mundo exterior, mas também a humanidade enfrenta uma crescente frieza dos afectos. As pessoas começam a morrer súbitamente por falhas cardiacas inexplicáveis, mas na realidade não é o coração o símbolo dos afectos ? A solidão e a morte tornam-se sinónimos e ambas se ignoram. A identidade individual é usurpável e manipulável.
Um filme com alguns problemas na representação. Joaquin Phoenix, demonstra a falta de subtileza e de expressividade  que  é a sua  imagem de marca. Não é de estranhar, para quem não gosta da profissão que tem e dá galas desse facto.
TV, liberta-se aqui do espartilho DOGMA 95 e faz um filme mais ao gosto americano, com bela fotografia de New York.
Que não chega, no entanto para tirar o filme das baixas temperaturas, para onde ele insiste em apontar. 
(**)

A América é novamente revisitada no Dear Wendy (2005), mas com a ajuda do Americanófobo assumido, Lars Von Trier, que escreveu o argumento.



 E claro que LVT, tinha que se meter com os americanos e a sua história de relação íntima com as armas, através de um Western moderno, que partindo de premissas infantis, de um pacifismo com armas (um auto-retrato da América), desemboca num banho de sangue (um retrato da américa e da sua história, segundo LVT).
Descontando a paranóia inerente ao argumento, o filme suscita questões importantes e bem actuais, sobre o mundo em que vivemos e a sociedade americana, em particular.
E TV, lá fez o seu Western alternativo, com eficiência e estilo... 
(**) 

Submarino, de 2010, de novo na Escandinávia, é uma incursão no drama das dependências de drogas e na ruptura familiar que lhe está frequentemente associada.

Uma narrativa realista, uma direção sóbria e competente, interpretações razoáveis, mas um filme feito mais de fora para dentro, deixando a visão  "interior", do mundo   dos personagens, para segundo plano, numa abordagem algo panfletária e superficial.
(**) 

The hunt - A caça (2012), traz-nos de novo TV ao seu melhor cinema. 
 
 TV, conta que após A festa, alguém lhe sugeriu que abordasse o tema dos abusos sexuais nas crianças, sob um outro prisma. E se as crianças mentirem ? Será lícito pensar que as crianças nunca mentem ? Quais as implicações que tais mentiras têm na vida dos acusados, das suas famílias e comunidades ?
O filme é interessante porque aborda todas estas questões de forma inteligente. Um educador que é falsamente acusado por uma mentira de uma criança, torna-se definitiva e irreversivelmente, um proscrito de uma comunidade, que antes o venerava .
Como Mads Mikkelsen, o ator que faz de Lucas, o professor do filme, refere na entrevista ao Ipsilon de 8-3-2013, aquilo que os outros difundem como verdade sobre uma pessoa, torna-se na própria identidade dessa pessoa.
Neste filme, sente-se que não há hipótese de reversão dessa lógica terrível, como é de resto, bem explícito no fim, só aparentemente de reconciliação. Na realidade do filme e da vida, a caça, continua...
Ao argumento sólido, juntam-se  interpretações convincentes, sobretudo de Mads Mikkelsen que ganhou o prémio de melhor ator em Cannes, mas também é de aplaudir a criança, que dir-se-ia uma veterana(!) na arte da representação (?).
E TV, embala tudo isto, bem ao seu estilo, num exercício irrepreensível de bom cinema. 
(****) 
 


CINEMATOGRAFIA 
     
     Sneblind (1990)
     Last  round (curta) (1993) 
     Slaget Pa Tasken (TV) (1993)
     The Boy Who Walked Backwards (1995)
     The biggest heroes (1996)
 ☑ The celebration (A festa) (1998)
     The third lie (1998)
     D-dag - Niels-Henning (TV) (2000)
     D- dag (TV) (2000)
     The best of blur - No distance left to run (video)(2000)
     D-dag - Den faerdige film (TV) (2001)
 It's all about Love (2003)
 Dear Wendy (2005)
     When a man comes home (2007)
     Metallica: The day that never comes (curta) (2008)
 Submarino (2010)
 The hunt (2012)





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