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domingo, 21 de abril de 2013

☑ SILÊNCIO, de Masahiro Shinoda

Dissonâncias no silêncio


FICHA
Título em português: Silêncio
Título em japonês: Chinmoku
Ano: 1971
Origem: Japão
Linguagem: Japonês e inglês
Género: Drama, histórico
Mood: Tristeza, violência, agonia, fé
Cinematografia: Kazuo Miyagawa
Argumento:Masahiro Shinoda, adaptado do romance de Shusaku Endo "Silence".
Realização: Masahiro Shinoda
Intérpretes:  Don Kenny, David Lampson, Shima Iwashita

CLIP



CRÍTICA
Adaptação cinematográfica da obra homónima de Shusaku Endo, "Silêncio" é um filme dramático, com algum cunho histórico, sobre o cristianismo no Japão no século XVII, numa altura em que esta religião era proíbida e os seus crentes forçados a renegá-la.
O argumento segue de perto, o relato de Endo,  acrescentando-lhe alguns elementos narrativos ausentes do livro, como a história do Samurai cristão Sanemon Okada e da sua mulher Kiku (Mónica),  na que  afinal, se vem a revelar um das cenas fortes do filme, aquando do sofrimento e abjuração de ambos. No fim do livro, sabe-se que ao apóstata Rodrigues, é-lhe ordenado que despose a viúva de um Samurai morto, sem especificar. Ora Shinoda, aproveitou a deixa, para fazer de Mónica, a humilhada sobrevivente, essa mulher. Ora, essa mulher que renegou a fé, em nome de um amor maior pelo seu esposo, vai no fim comprovar o quanto foi traída pela fé. E se isso salva, um pouco o filme da mediania, facto a que não é alheio, o desempenho convincente da atriz Shima Iwashita, também é certo que essa "inovação", subverte o espírito da ficção de Endo, no qual Rodrigues é retratado com justiça e humanidade, porque apenas apostatou pelos que sofriam e no fundo, sempre se considerando crente no seu interior. É por isso, demasiado cruel o final do filme, embora se perceba o seu interesse cinematográfico...
Um dos problemas deste e de outros filmes que adaptam obras literárias, é lidar com a matéria mental das personagens, os seus estados de alma e divagações mentais. Talvez se justificasse, no momento da abjuração de Rodrigues, colocar em voz off, os seus pensamentos, expressos de forma fortíssima e significativa na narrativa de Endo: "Pisa-me ! Eu vim ao mundo para ser pisado pelos homens !". Este clímax da narrativa literária, é algo banalizada nas imagens mas percebe-se no fundo este despojamento fílmico, à luz do cortante finale...

A figura de Cristóvão Ferreira, o apóstata procurado por Rodrigues, é um elemento fundamental do filme e de resto, muito bem representado. Os diálogos com Rodrigues são também o espelho desse choque cultural e do modo como foram "resolvidas" as dissonâncias Oriente-Ocidente. Trata-se de uma figura, que vista da actualidade, não deixa de concitar simpatia, embora na época fosse considerado o mais desprezível dos homens, que teria renegado a sua essência. Mas na realidade, nota-se que ele apenas se adaptou ao pântano cultural (visão ocidental) do Japão. "Vais fazer o maior acto de amor, que alguém pode fazer". "Até Cristo, pisaria o fumie". São as palavras fortes que atestam a complexidade fascinante deste homem, fraco apenas na aparência...
As dissonâncias Ocidente-Oriente, começam pela intrigante música de abertura, uma sobreposição de um melódico trecho ocidental e de um sincopado trecho japonês.
Figura igualmente marcante é a do japonês repetidamente apóstata, Kichijiro. O seu auto-retrato de homem fraco " que se tivesse vivido uns anos antes (da perseguição) seria um cristão exemplar", é comovente e profundamente inquietante...

Enfim, o filme de Shinoda,  não pode ser dissociado da obra de referência, que adapta, mas de um ponto de vista cinematográfico é autónomo e com uma razoável visibilidade e interesse.

Nota:**   

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