1. Entrevista a Michael Haneke no Ipsilon, de 7 de Dezembro de 2012, a propósito, e não só, do seu fime
"Amor".
Os filmes de terror,
mainstream em particular, utilizam bem o
artifício de deixar os maus sobreviver, para fazerem sequelas.
- Mas esses filmes dão uma aparência irrealista à violência,
tornando-a consumível. É como dar uma volta num túnel do horror: permito-me ter
medo, mas sei que não me vai acontecer nada. Lembro-me de ter visto o Pulp
Fiction, num cinema cheio de jovens e, na cena em que arrancam a cabeça
a um tipo a tiro, quase caíam das cadeiras a rir.
E o Michael Haneke ?
Eu não. Não suporto a violência. Sou alérgico a qualquer tipo de violência física.
É errado representar a violência de forma consumível e cómica.
É curioso que diga isso.Os seus filmes não são isentos de
violência.
Mas não a mostram, retirando-lhe o sensacionalismo, porque a
atracção pela violência é obscena. Acho mais inteligente trabalhar com a
fantasia do espectador. A fantasia é mais poderosa que qualquer imagem. Ouvir
uma tábua do chão a ranger é pior que ver um monstro assomar à porta. Acho que
todas as pessoas vivem com medo, é um estado fundamental da existência humana.
2. Ipsilon, 11 de Janeiro de 2013 - Quentin Tarantino e as
polémicas acerca do seu novo filme Western Spaghetti, "Django Libertado"
Tarantino confessa que se questionou. Falar de escravatura é
coisa séria, mexe com fantasmas da América que ele tão bem conhece, ele que
cresceu numa comunidade de negros de Los Angeles… Tarantino escolheu não fazer
batota consigo mesmo…pegando num assunto cheio de tabus e dando-lhe uma
linguagem contemporânea. A sua. Polémica mas actual. E divertida, há sempre
quem acentue…
Estão aqui os ingredientes: escravatura, western spaghetti
com o cowboy-escravo, a lutar aos tiros pela sua causa, e uma história de amor
e resgate do ser amado. O resto é Tarantino. O contador de histórias, de
aventuras, que gosta de servir com boas doses de uma violência tão sangrenta quanto surrealizante, diálogos
hilariantes, linguagem pop e uma banda sonora a embrulhar o conjunto, que
resulta numa composição cinemática infalível. Entretenimento. Ponto.
E gagueja agora a
menina da rádio, que o entrevista: Porquê ?
E responde sem mais, Tarantino: for fun. Que é, como quem diz, puro prazer. Um for fun que outro realizador, Spike Lee, não ouviu porque reagiu
antes. Disse ele que não iria ver o filme
porque Tarantino, não tinha o direito de fazer da escravatura, o tema de
um Western Spaghetti. Ou seja a escravatura não era território para rir. Ele, Spike Lee, sentindo-se herdeiro de
escravos, retirados de África, achou que devia essa recusa em ver Django, aos
seus antecessores que viveram nas fazendas retratadas no filme. Para Lee,
a escravatura foi tão brutal, que não podia ser retratada num Western Spaghetti
à Sergio Leone.
O cinema inspira-se na violência real.
ResponderEliminarMas não inspira e alimenta também a violência fora das telas ?
Não sei se viram a entrevista de um jornalista britânico de TV , a Tarantino, reproduzida hoje no noticiário das 13, da SIC e que tem a seguinte URL:
ResponderEliminarhttp://entertainment.nbcnews.com/_news/2013/01/11/16465162-quentin-tarantino-shuts-down-interviewer-over-questioning-about-violence?lite
A pergunta era se a violência do cinema, não influenciava a violência real.Tarantino passou-se, quase que chegava a vias de facto (chegar a vias de fato, não fica bem...)
Eu penso que é um bocado pateta, ignorar que vivemos num mundo perigoso, habitado por descendentes de macacos, com os instintos mais primitivos alojados algures no Rinencéfalo. Vamos todos agora viver num convento de virtudes, com muros altos ? Violência houve sempre em doses obscenas, capiche ? O ser humano pode rir ou chorar à vontade, sobre o seu património. Quem quiser, obviamente...desde que não incomode o vizinho.
Assina:
(O próprio PILAR DE PARANHOS, em carne e osso)
O filme do Haneke, se calhar é mais violento em termos emocionais, que qualquer um do Tarantino.
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