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sábado, 19 de janeiro de 2013

00:30 - A HORA NEGRA


 
de Kathryn Bigelow, 2012
 
 
Um bom filme sobre os 10 anos de caça a Bin Laden.
Se   "Estado de Guerra" de 2008, outro filme de  Kathryn Bigelow , sobre a história bélica recente da América,  não  fazia  a apologia da guerra do Iraque,  " A hora negra", não faz a defesa da tortura, como já muita gente tem apregoado por aí.
 Comum entre estes dois filmes é o "estado de guerra", em que a América se vê envolvida, de forma diferente, mas interligada, como se, de certa forma, víssemos o mesmo filme, contado de forma diferente. A América às voltas com os seus inimigos e  fantasmas. Claro que é, em ambos os casos, quer queiramos, quer não, um certo "ponto de vista americano", que prevalece, sem o contraponto do "outro lado". Mas é ilusório pensar que o cinema - e isto é apenas um filme, convém não esquecermos - não induz e nalguns casos força,  o espectador numa  determinada orientação, politica, religiosa ou ética. O "outro lado", neste caso, convém não esquecer, esteve na origem  da  ignóbil chacina de mais de 3 mil pessoas. Acresce ainda que os americanos não são propriamente uns anjinhos,  e nem mesmo assim, visto essencialmente pelo prisma americano, o filme não cai na tentação maniqueísta, dos "bons",  contra "os maus", revelando uma complexidade e ambivalência , expressa por exemplo no foco da polémica, os bárbaros métodos de  tortura que, à primeira vista, parecem objecto de justificação no filme, quando na realidade, se alguma coisa o filme prova é que foram ineficazes, como bem notou  Mark Bowden,  o autor do livro "The finish - The killing of Osama Bin Laden" , pois não só não evitaram outros atentados sangrentos como  levaram à captura do alvo, apenas ao fim de penosos 10 anos. E mais se nota, que se quisesse fazer a apologia da tortura, mostrava-se um "terrorista",  a  "vomitar" informações vitais, imediatamente  após a instituição de tais "infalíveis métodos".
O essencial é que se trata de cinema, de um bom filme, magnificamente realizado e interpretado, que mostra factos dramáticos, quase de forma documental (baseado note-se, em fontes da CIA), e interpela  o espectador mais do que o doutrina. Uma  visão "Americana", é certo, mas com autocrítica - vejam-se as referências às informações erradas de um alto responsável da CIA, sobre a guerra do Iraque, à "vergonha" de Guantánamo e às dúvidas sobre a eficácia dos métodos de "interrogatório e persuasão".
Não se branqueia, o "estado de guerra" que perpassa nestes dois filmes, e não se embarca em pacifismos patetas, como  se, no pós 11 de Setembro, fosse possível, imaginar agentes da CIA, a interrogar prisioneiros como alguns próceres do humanismo idealizam:  "Vá lá amigo, colabore, seja bom muçulmano, quer um cafezinho ou um chá com bolachas?". Mas isso são questões laterais ao cinema em geral e a este filme em particular. Quanto "ao outro lado", é certo que seria matéria interessante de analisar e contrapor, mas manifestamente noutro filme.
00:30 -  A Hora negra ****

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