de Kathryn Bigelow, 2012
Um bom filme sobre os 10 anos de caça a Bin Laden.
Se "Estado de
Guerra" de 2008, outro filme de
Kathryn Bigelow , sobre a história bélica recente da América, não fazia
a apologia da guerra do Iraque, " A hora
negra", não faz a defesa da tortura, como já muita gente tem apregoado por
aí.
Comum entre estes
dois filmes é o "estado de guerra", em que a América se vê envolvida,
de forma diferente, mas interligada, como se, de certa forma, víssemos o mesmo
filme, contado de forma diferente. A América às voltas com os seus inimigos
e fantasmas. Claro que é, em ambos os
casos, quer queiramos, quer não, um certo "ponto de vista americano",
que prevalece, sem o contraponto do "outro lado". Mas é ilusório pensar
que o cinema - e isto é apenas um filme, convém não esquecermos - não induz e
nalguns casos força, o espectador numa determinada orientação, politica, religiosa
ou ética. O "outro lado", neste caso, convém não esquecer, esteve na
origem da ignóbil chacina de mais de 3 mil pessoas.
Acresce ainda que os americanos não são propriamente uns anjinhos, e nem mesmo assim, visto essencialmente pelo
prisma americano, o filme não cai na tentação maniqueísta, dos
"bons", contra "os
maus", revelando uma complexidade e ambivalência , expressa por exemplo
no foco da polémica, os bárbaros métodos de tortura que, à
primeira vista, parecem objecto de justificação no filme, quando na realidade,
se alguma coisa o filme prova é que foram ineficazes, como bem notou Mark Bowden,
o autor do livro "The finish - The killing of Osama Bin Laden"
, pois não só não evitaram outros atentados sangrentos como levaram à captura
do alvo, apenas ao fim de penosos 10 anos. E mais se nota, que se quisesse fazer a
apologia da tortura, mostrava-se um "terrorista", a "vomitar" informações vitais, imediatamente após a
instituição de tais "infalíveis métodos".
O essencial é que se trata de cinema, de um bom filme, magnificamente
realizado e interpretado, que mostra factos dramáticos, quase de forma
documental (baseado note-se, em fontes da CIA), e interpela o espectador mais
do que o doutrina. Uma visão "Americana", é certo, mas com
autocrítica - vejam-se as referências às informações erradas de um alto responsável da
CIA, sobre a guerra do Iraque, à "vergonha" de Guantánamo e às
dúvidas sobre a eficácia dos métodos de "interrogatório e persuasão".
Não se branqueia, o "estado de guerra" que perpassa
nestes dois filmes, e não se embarca em pacifismos patetas, como se, no pós 11 de Setembro, fosse possível,
imaginar agentes da CIA, a interrogar
prisioneiros como alguns próceres do humanismo idealizam: "Vá lá amigo, colabore, seja bom muçulmano, quer
um cafezinho ou um chá com bolachas?". Mas isso são questões laterais ao cinema em geral e a este filme em particular. Quanto "ao outro lado", é certo
que seria matéria interessante de
analisar e contrapor, mas manifestamente noutro filme.
00:30 - A Hora negra
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