De Alain resnais, com Delphine Seyrig, Giorgio Albertazzi e Sacha Pitoeff .
Drama. Mistério. Romance. 94 minutos. Preto e branco.
Argumento: Alain Robbe-Grillet. Fotografia: Sacha Vierny. Música: Francis Seyrig.
Sinopse:
Num hotel clássico e sumptuoso, um estranho (X) (Giorgio Albertazzi) tenta convencer uma mulher casada (A) (Delphine Seyrig), de que eles tiveram um affair nesse mesmo local (ou teria sido noutro sítio?), um ano antes, instando-a a lembrar-se desse acontecimento que ela repetidamente ignora e apelando para que ela deixe o marido/amante (M) (Sasha Pitoeff) e fique com ele.
Eis o candidato mais plausível ao filme mais críptico de sempre. Um filme como nenhum outro, nem mesmo considerando o universo muito particular de Alain Resnais, em especial, o filme que o precedeu "Hiroshima, mon amour". Talvez seja demasiado drástico ir pelo caminho aconselhado pelo próprio Alain Resnais quando avisou que este filme não é para perceber, mas sim apreciar. É evidente que tudo é suscetível de pelo menos uma tentativa de análise e para além da primordial experiência fílmica do domínio sensorial e por isso inteiramente subjectiva, há sempre inquietações de natureza cognitiva, filosófica ou ética, que se imiscuem no território das emoções. Mesmo assim, não nos iludamos com as racionalizações, porque arriscamo-nos a mimetizar o ridículo das figuras que neste filme se convencem que podem ganhar o jogo contra o adversário invencível, o senhor M.
Drama. Mistério. Romance. 94 minutos. Preto e branco.
Argumento: Alain Robbe-Grillet. Fotografia: Sacha Vierny. Música: Francis Seyrig.
Sinopse:
Num hotel clássico e sumptuoso, um estranho (X) (Giorgio Albertazzi) tenta convencer uma mulher casada (A) (Delphine Seyrig), de que eles tiveram um affair nesse mesmo local (ou teria sido noutro sítio?), um ano antes, instando-a a lembrar-se desse acontecimento que ela repetidamente ignora e apelando para que ela deixe o marido/amante (M) (Sasha Pitoeff) e fique com ele.
Eis o candidato mais plausível ao filme mais críptico de sempre. Um filme como nenhum outro, nem mesmo considerando o universo muito particular de Alain Resnais, em especial, o filme que o precedeu "Hiroshima, mon amour". Talvez seja demasiado drástico ir pelo caminho aconselhado pelo próprio Alain Resnais quando avisou que este filme não é para perceber, mas sim apreciar. É evidente que tudo é suscetível de pelo menos uma tentativa de análise e para além da primordial experiência fílmica do domínio sensorial e por isso inteiramente subjectiva, há sempre inquietações de natureza cognitiva, filosófica ou ética, que se imiscuem no território das emoções. Mesmo assim, não nos iludamos com as racionalizações, porque arriscamo-nos a mimetizar o ridículo das figuras que neste filme se convencem que podem ganhar o jogo contra o adversário invencível, o senhor M.
As análises que por aí pululam desde o ano do seu lançamento, das mais profundas às mais estapafúrdias, reflectem a ausência de um terreno fime onde assentem as ideias.
Há quem fale no novo romance francês a propósito de Alain Robbe-Grillet e ache necessário ler o livro deste, "o ciúme", de onde a estrutura do triangulo amoroso nos moldes do filme seria decalcada. Mas isto é manifestamente exorbitar o essencial da experiência cinéfila, que se resume ao filme em concreto, que em si mesmo deverá conter tudo o que importa ao espectador.
O próprio Alain Resnais, referiu que apenas sentiu o filme como seu, depois de alguns "takes", não lhe dizendo nada de especial o argumento original.
Outra formulação assegura que o filme descreve a recriação do mito de Orfeu, tudo se passando no submundo dos mortos onde Eurídice, deveria ser resgatada pelo seu amado. De facto, todos os personagens do filme, desde os principais aos figurantes reagem como se estivessem em estado de hipnose e o argumento anda à volta de uma ideia de resgate amoroso. A música algo fúnebre consubstanciaria uma ideia de pós-morte, o mesmo se passando com a miríade de corredores sem fim num estilo barroco, que simularia na perfeição o Purgatório. É uma leitura com tanta lógica como muitas outras, mas o filme não se deixa circunscrever em ideias feitas e o nosso Orfeu fica-se pela lembrança vaga com o Deus da mitologia Grega, que como é sabido acabou por ser vítima da ansiedade e assim perdeu a sua amada para sempre, enquanto o Sr. X do nosso filme, nunca teve certeza absoluta de nada, aqui e ali revelando mesmo sinais de Alzheimer, tal como a Sra A e no fundo nunca foi tão longe, a não ser no trambolhão, decerto mortal, que desajeitadamente teve no jardim.
A propósito de Alzheimer e da atmosfera de hipnose que se respira no filme, talvez o grande tema do filme seja mesmo a memória tão labiríntica e volátil, como os corredores infindáveis e intrincados do hotel e os vestidos da protagonista. Falamos de uma memória de experiências limite, ligadas nomeadamente a uma relação amorosa complexa, tal qual a vivida pelos vértices do triangulo sentimental do filme. Mas também, ousamos pensar na memória da própria matéria e experiência fílmicas que estão permanentemente em causa, como se fosse imperioso repetir-se as frases, as imagens e os jogos de espelhos e se estivessemos condenados a duvidar de tudo o que já vimos, neste e noutros filmes. O outro lado da magia do cinema...e da vida, porque o cinema nasce da vida e dos seus problemas.
E o prazer de ver cinema, não terá sido subalternizado neste filme aparentemente tão codificado e hermético ? Não será ele um produto pretensioso, incompreensivel e falho de humor, para consumo de algumas elites cultural e intelectualmente mais dotadas, como defendem os seus detractores ?
É evidente que se alguém partir para a visualização deste filme com fins de entretenimento, sem estar ciente que ele é antes de mais uma aventura e um exercício espíritual, vai achar o filme uma verdadeira provação e ficar tão desorientado como os seus personagens e figurantes.
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