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sexta-feira, 12 de julho de 2013

☑ NOUTRO PAÍS, de Sang-Soo Hong

As latitudes do cinema

"In another country"
"Da-reun n-ra-e-seo" (título original)
Coreia do Sul (2012).
De Sang-Soo Hong, com Isabelle Huppert, Jung-Sang Yu, Yu-Mi Jeong e Yeo-Jeong Yoon.
Drama. 89 minutos. Cor.
Sinopse:
Três histórias, dentro de uma história. Na história "tronco", uma jovem coreana, estudante de cinema, para esquecer problemas familiares, entretem-se a escrever  três histórias  interligadas passadas no mesmo "resort" turístico da Coreia do Sul. Nessas histórias, Anne (Isabelle Huppert) representa três turistas francesas diferentes: na primeira  ela é uma realizadora de cinema que visita outro realizador local; na segunda dá corpo a uma mulher casada que tem uma relação extra-conjugal com um realizador asíático; na terceira, ela veste a pele de uma mulher recentemente abandonada pelo marido. A única personagem comum é o salva-vidas...
   

"Noutro País", o título deste filme do produtivo e reputado cineasta coreano Sang-Soo Hong (5º lugar da lista dos melhores filmes de 2012 para o "Cahiers de Cinema"), que conta com a experiente atriz francesa Isabelle Huppert, remete-nos desde logo para uma questão primordial, de saber em que medida, a disparidade das referências geográficas e por inerência culturais e linguísticas,  se manifestam  no processo de concepção e implementação do filme,  e qual é a resultante do equilíbrio entre identidade e alteridade. 
Não é por acaso, que o processo de criação no cinema, é chamado ao barulho no próprio filme, por intermédio de uma estudante de cinema, que movida por problemas concretos, delineou não uma mas três histórias, e com isto, mais do que um mero artifício ficcional, logrou uma introspecção do próprio cinema, ensaiada por tentativas, como se com essa repetição, o espetador fosse avisado por um lado que tudo se resume a  ficção, fruto da inspiração  de uma jovem cinéfila, mas por outro lado,  não invalidando que sejamos instados a uma atenção suplementar e convidados a aprender uma espécie de tabuada cinéfila com resultados inesperados. E assim das três ( ou se quisermos quatro) histórias, que se lêm umas pelas outras, em divertido jogo de transparências, resulta uma única entidade narrativa. 
E também não é por acaso, que a protagonista é sempre uma  francesa  com conexão directa ou indirecta ao cinema, ou não fosse esse fascínio pela outridade e o respeito pelas referências externas do seu cinema,  nas infinitas possibilidades por ele geradas  de encontros e cruzamentos de afectos, uma marca da obra de Hong, materializando neste "Noutro país" o que em  linguagem futebolística se intitula "segunda mão em casa"  , do seu filme "Noite e dia" de 2008, retrato de uma "visita" de coreanos a Paris.
As histórias (ou a história) resumem-se à procura de uma referência básica e um farol é um  símbolo óbvio  dessa orientação e dessa luz, que se revela na prática muito difícil de encontrar, na babel cultural e linguística que o filme expõe.
Tal como as setas na estrada fazem hesitar a protagonista, sobre a direção a seguir, este filme causa-nos o mesmo senso de  insegurança e desorientação. Nunca sabemos quando irá chover e se devemos levar ou não o guarda chuva. Nunca teremos a certeza do que dizem os estranhos.
De certa forma, o filme torna-se  refém do seu esquematismo e a extrema concisão da narrativa não permite que passem para nós  todas as nuances dos encontros e desencontros afectivos e das necessidades de reorientação e cicatrização emocional que as suas personagens reivindicam.
E Hong de forma assaz curiosa faz de um divertido salva-vidas com problemas de comunicação, a personagem comum de histórias de encontros e desencontros, de pausas e recomeços que se sobrepõem mais do que se cruzam. Por ele passa o caminho do farol. Ou não...

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