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sábado, 20 de julho de 2013

☑ LORE, de Cate Shortland

Uma história para além da inocência

"Lore"
Austrália, Alemanha e UK (2012).
De Cate Shortland, com Saskia Rosendahl, Nele Trebs, Ursina Lardi e Kai-Peter Malina. 
Argumento de Cate Shortland e Robin Mukherjee, baseado no romance de Rachel Seiffert "The drak room" (2001).
Drama. Thriler. Guerra. 109 minutos. Cor.
Sinopse: 
Lore, filha de oficiais das SS entretanto presos, atravessa uma Alemanha derrotada e ocupada pelos aliados, desde a Floresta negra até Hamburgo, casa da sua avó. Responsável pelos seus quatro irmãos menores e na companhia de um estranho, em quem tem que confiar apesar da sua pessoa significar à partida ódio e desprezo, enfrenta uma longa caminhada exterior a par de uma não menos penosa  viagem interior, num doloroso processo de amadurecimento.

 
Já em "Salto mortal", o seu primeiro filme, realizado em 2004, Cate Shortland, ensaiara um problemático processo de amadurecimento de uma "teenager", que abandona a casa dos seus pais em busca de uma vida autónoma.
Neste seu segundo registo, a realizadora Australiana, volta ao de leve ao tema, mas torna o processo de emancipação muito mais complexo e doloroso. Neste filme estamos perante uma "teenager", que forçada pelas circunstâncias tem que rever toda a sua vida e os seus valores  para amadurecer rápidamente e sob a sua égide guiar o processo de crescimento dos seus irmãos mais pequenos.
Cate Shortland, de origem judia, volta a um tema quase tabu e a um terreno deveras pantanoso que ainda desperta mais emoção que razão e em que se torna difícil pisar solo firme, fora  da "verdade" oficial e socialmente aceite. É por isso, que conceder aos nazis derrotados, invadidos e humilhados, a possibilidade de exporem o seu  ponto de vista, sem que isso signifique a defesa do negacionismo, é algo que com o perfil desta realizadora e com esta escala de visibilidade é novo e importa realçar, mesmo que se percebam as razões pelas quais  tal abordagem provoque a fúria e o repúdio do alinhamento crítico mais tradicional.
Na verdade, Cate usa apenas a Alemanha destroçada e a sua ideologia em ruínas como um pretexto e um mapa para ilustrar uma história de crescimento e de superação, de perda da inocência  e de transição para a idade adulta, que poderia ser uma metáfora da própria Alemanha, se a realizadora  não se furtasse inteligente e conscientemente ao fundo da questão política e não se refugiasse no essencial das questões humanas, permidindo-se apenas inquietar-nos com um jogo de afetos baralhados por preconceitos. E mais ainda, subvertendo os papeis tradicionais atribuidos nas fábulas  do mundo infantil, tão repetidamente vindas à baila, na narrativa. Nesta história o "capuchinho vermelho" que se desloca a casa da avozinha, não é tão linearmente indefeso ou um exemplo de suprema bondade, nem o "lobo mau" que a persegue, tão radicalmente perigoso, como as aparências sugerem. E para baralhar, não sabemos realmente quem é aquela rapariga que chegou a casa da avó e quem a espera. Em todo o caso a perda da inocência infantil e o processo de superação e crescimento são  assinalados simbolicamente pela quebra dos pequenos animais da floresta, em cerâmica...
O filme é de certa forma um duplo "road movie", a um só tempo, interior no processo de cicatrização das feridas e na superação dos traumas e exterior na descrição factual de uma longa viagem num país destroçado pela guerra e dividido pelos vencedores.
E Cate Shortland entra a matar nos rostos dos personagens em rigorosos enquadramentos e oportunos close-ups que revelam o que não parece visivel e passivel de explicação por palavras, como na cena de grande tensão e conflito interior, em que Lore, uma excelente Saskia Rosendahl, usa o alegado judeu para a sua  masturbação.
Por tudo isto um filme importante e imperdível, uma das gratas surpresas da colheita cinéfila de 2012.


ENTREVISTA DE CATE SHORTLAND



Publicada por Pilar de Paranhos




IMPRESSÃO DO FAROL DE LEÇA SOBRE O FILME LORE

Um filme muito interessante.
O tema não é muito comum: O colapso na Alemanha.
O drama dos vencidos e principalmente dos que pouco estavam envolvidos (pela sua condição) no dia a dia do conflito.
O exodo de uma familia através da terra ocupada e cheia de armadilhas, enfrentando a sua própria visão dos outros, construida por anos de doutrina.
Um filme que consegue manter a distância e a ambiguidade própria das situações em que a moral e os principios éticos estão submetidos a uma pressão externa que os faz por vezes derreter. 


Publicada por O Farol de Leça

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