Cinema autêntico
"Copie conforme" - Título original em francês.
"Cópia certificada" Título em Portugal.
Origem: França, Itália, Bélgica & Irão. Linguagem: Francês, Inglês e Italiano. Ano: 2010.
Realização: Abbas Kiarostami.
Argumento: Abbas Kiarostami, Caroline Eliacheff e Massoumeh Lahidji.
Com: Juliette Binoche, William Shimell e Jean-Claude Carrière.
Cinematografia: Luca Bigazzi.
Género: Drama. 106 minutos. Cor.
Sinopse
Na Toscana, nos dias de hoje, James Miller um escritor britânico de meia idade, faz a apresentação do seu livro sobre o valor da cópia de uma obra de arte. Na sequência do evento, o escritor encontra-se com uma mulher francesa, dona de uma galeria de arte, que o convida a deslocar-se à vila de Lucignano. Nesse itinerário, a conversa sobre arte torna-se cada vez mais pessoal e a natureza da sua relação vai-se tornando cada vez mais ambígua e mais complexa do que à primeira vista parecia...
"Esqueça o original, obtenha uma boa cópia"
" As cópias são importantes porque reconduzem ao original e desta forma certificam o seu valor. E acredito que esta abordagem não se dê apenas na arte. Um leitor disse-me que encarou-a como um convite à auto-análise e à melhor compreensão de si mesmo."
"Original, é uma palavra que está associada a autenticidade mas etimologicamente também a nascimento e é interessante comparar a reprodução na arte e na vida humana. Afinal podemos dizer que somos umas cópias do DNA dos nossos antepassados."
(James Miller, personagem do filme.)
"Cópia certificada" é a segunda experiência do aclamado realizador iraniano Abbas Kiarostami, fora do Irão, ele que antes já tinha realizado um documentário ("ABC África"), em 2001, a convite da ONU.
A estrutura deste filme, é perfeitamente enquadrável e reconhecível dentro do universo artístico de Kiarostami e centra-se numa conversa entre duas personagens, dois "estranhos" que se encontram um dia, e que se dispõem ao conhecimento mútuo, viajando e conversando sobre os temas do original e da cópia, do falso e do autêntico, da aparência e da essência, na arte e na vida. A primeira constatação sobre a estrutura do argumento, com o fulcro em torno de uma relação, que parte do "desconhecimento" e que se vai materializando e desvendando com base nos diálogos e na interação com um cenário cheio de ressonâncias simbólicas, é de que Kiarostami é fiel a si próprio e nesta asserção, este filme como "cópia", redireciona para o Kiarostami original. Mas inevitavelmente, não só por causa do argumento mas devido à "mise-en-scène", remete também, para "antepassados" artísticos, como Rossellini em "Viagem em Itália" (1954), Linklater em "Antes do amanhecer" (1995) e de certa forma, Orson Welles em "F de fraude" (1973) e outros mais se quiséssemos ser exaustivos e aprofundássemos a genealogia da coisa. Mas para sermos justos, embora estes filmes compartilhem reminiscências visuais e algumas coincidências temáticas, a abordagem de Kiarostami, acaba por revelar-se menos linear do que à partida se supunha, fazendo jus às palavras do escritor do filme, quando este, a certa altura, diz que "ser simples, não tem nada de simples". Aliás, em virtude dessa demanda incessante pelas questões e pela teorização, aqui e ali, com contornos um pouco retóricos, o filme acaba por se revelar algo desequilibrado no binómio intelecto-emoções, porque algo insosso no condimento emotivo, mas nunca se reduzindo à mera charada mental, em todo o caso, arrefecendo um pouco no deleite que um filme de Kiarostami proporciona.
Kiarostami proporciona-nos grandes momentos de cinema aquando da transformação que se opera a certa altura da narrativa, quando os dois protagonistas passam a ser "vistos" como um "casal" e daí para a frente se comportam como tal. Não é o banal "twist" tão caro a Hollywood, revelando uma realidade oculta, mas sim o corolário da tese que percorre todo este filme, ou seja o modo como se vê uma coisa, modifica o seu valor de verdade e a aparência pode passar por essência e a cópia por original, ou vice-versa, sem que a autenticidade seja sacrificada. Depende da forma como se olha, o olhar tudo transforma. Assim na arte como na vida.
"A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida."
(Oscar Wilde)
" As cópias são importantes porque reconduzem ao original e desta forma certificam o seu valor. E acredito que esta abordagem não se dê apenas na arte. Um leitor disse-me que encarou-a como um convite à auto-análise e à melhor compreensão de si mesmo."
"Original, é uma palavra que está associada a autenticidade mas etimologicamente também a nascimento e é interessante comparar a reprodução na arte e na vida humana. Afinal podemos dizer que somos umas cópias do DNA dos nossos antepassados."
(James Miller, personagem do filme.)
"Cópia certificada" é a segunda experiência do aclamado realizador iraniano Abbas Kiarostami, fora do Irão, ele que antes já tinha realizado um documentário ("ABC África"), em 2001, a convite da ONU.
A estrutura deste filme, é perfeitamente enquadrável e reconhecível dentro do universo artístico de Kiarostami e centra-se numa conversa entre duas personagens, dois "estranhos" que se encontram um dia, e que se dispõem ao conhecimento mútuo, viajando e conversando sobre os temas do original e da cópia, do falso e do autêntico, da aparência e da essência, na arte e na vida. A primeira constatação sobre a estrutura do argumento, com o fulcro em torno de uma relação, que parte do "desconhecimento" e que se vai materializando e desvendando com base nos diálogos e na interação com um cenário cheio de ressonâncias simbólicas, é de que Kiarostami é fiel a si próprio e nesta asserção, este filme como "cópia", redireciona para o Kiarostami original. Mas inevitavelmente, não só por causa do argumento mas devido à "mise-en-scène", remete também, para "antepassados" artísticos, como Rossellini em "Viagem em Itália" (1954), Linklater em "Antes do amanhecer" (1995) e de certa forma, Orson Welles em "F de fraude" (1973) e outros mais se quiséssemos ser exaustivos e aprofundássemos a genealogia da coisa. Mas para sermos justos, embora estes filmes compartilhem reminiscências visuais e algumas coincidências temáticas, a abordagem de Kiarostami, acaba por revelar-se menos linear do que à partida se supunha, fazendo jus às palavras do escritor do filme, quando este, a certa altura, diz que "ser simples, não tem nada de simples". Aliás, em virtude dessa demanda incessante pelas questões e pela teorização, aqui e ali, com contornos um pouco retóricos, o filme acaba por se revelar algo desequilibrado no binómio intelecto-emoções, porque algo insosso no condimento emotivo, mas nunca se reduzindo à mera charada mental, em todo o caso, arrefecendo um pouco no deleite que um filme de Kiarostami proporciona.
Kiarostami proporciona-nos grandes momentos de cinema aquando da transformação que se opera a certa altura da narrativa, quando os dois protagonistas passam a ser "vistos" como um "casal" e daí para a frente se comportam como tal. Não é o banal "twist" tão caro a Hollywood, revelando uma realidade oculta, mas sim o corolário da tese que percorre todo este filme, ou seja o modo como se vê uma coisa, modifica o seu valor de verdade e a aparência pode passar por essência e a cópia por original, ou vice-versa, sem que a autenticidade seja sacrificada. Depende da forma como se olha, o olhar tudo transforma. Assim na arte como na vida.
"A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida."
(Oscar Wilde)
Concordo em geral com as observações que são feitas.Sou fã deste realizador.Dito isto como se diz agora como "declaração de interesses" posso afirmar que curiosamente estou mais de acordo com as observações negativas sobre o filme.Carente de ritmo,repetitivo e mesmo naquilo que é "marca"começa a parecer "tique" do genero a utilização do carro e vidros como muleta para a encenação.O excesso da atriz e algum cabotinismo dos dialogos.O resto está bem e recomenda-se.
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