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quarta-feira, 1 de maio de 2013

☑ FUGA SEM FIM, de Sidney Lumet

Sidney Lumet: O cinema em fuga permanente
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FICHA
Título em português: Fuga sem fim
Título original em inglês: Running on empty
Ano: 1988
Origem: EUA
Linguagem: Inglês
Género: Drama
Cinematografia: Gerry Fisher
Argumento: Naomi Foner
Realização: Sidney Lumet
Intérpretes: Christine Lahti, River Phoenix, Judd Hirsch, Jonas Abry e Martha Plimpton
Conexões: "Regra de silêncio" (2012), de Robert Redford

SINOPSE
A família Pope vive há quase duas décadas, sob identidade falsa, fugindo de cidade em cidade, porque no fim dos anos 60, no auge da contestação à guerra do Vietname, os pais, activistas políticos  radicais, colaboraram num atentado, contra um laboratório de Napalm, do qual resultou  a cegueira de um funcionário. Ao chegar ao fim do liceu, o filho mais velho, um talentoso músico, divide-se entre a lealdade à família e o desejo de levar a sua própria vida.

TRAILER



CRÍTICA
Sidney Lumet (1924-2011) foi um prolífico realizador americano, com mais de 50 filmes, uma carreira que começou com "12 homens em fúria" (1957) e terminou com "Antes que o diabo saiba que morreste" (2011).
Com uma carreira que começou no teatro, Lumet distinguia-se pela exímia direção de atores e um carisma aglutinador de grandes talentos, desde Al Pacino a Philip Seymour Hoffman.
O seu cinema emergia vitorioso dos paradoxos e fragilidades da justiça que expunha como ninguém, era um cinema permanentemente em fuga, como pode ser comprovado de forma exemplar neste "Fuga sem fim", de 1988. O título original "Running on empty" ( literalmente, guiar um carro com o combustível quase a acabar) , retrata melhor os conceitos de imponderabilidade, fragilidade e limite, do que a linear tradução portuguesa, "Fuga sem fim".


 Com uma razoável distância crítica, Lumet, serve-se de um argumento que estabelece pontes com os activismos políticos gerados pela guerra do Vietname e das consequências que tais actos acarretaram para os seus membros.Pode-se aqui traçar um paralelismo entre este filme de 1988 e a recente abordagem de Robert Redford, "Regra de silêncio" (2012). No filme de Lumet, há a reinvindicação genuína do direito de se viver a própria vida, independentemente de um passado, que pese embora os efeitos colaterais, nunca é rejeitado e não se fixando ou cristalizando numa procura catártica de culpados ou inocentes, como no filme de Redford.
Filme de finíssimas texturas emocionais, não se deixa enredar em pieguices ou simplificações. Os Popes, embora exibindo trabalho e simpatia,  fazem tudo o necessário, nessa reinvindicação primordial do direito a uma vida normal, desde mentir ou falsificar fichas escolares até ao abandono do cão na rua. Não, este filme não é um filme de "Tarde de cinema", na TV, onde se retrata uma família injustiçada, em fuga permanente. É um filme que faz o  enunciado da equação e deixa a sua eventual  resolução para os espectadores.
A música subjaz omnipresente e constitui elemento de contradição na narrativa, não só pelas referências que vão sendo feitas no enredo (curiosa a contraposição Madonna vs Beethoven) e na banda sonora original, que inclui James Taylor, com o seu telúrico "Fire and Rain", mas sobretudo pelo carácter  salvífico que premoniza (Danny Pope, e o seu enorme talento) ou de abdicação que revela ( Annie Pope, abandonara uma brilhante carreira musical, em favor da luta política).
E nós, guiados pela mestria deste cinema que  se recusa a  ficar parado e cristalizado na contemplação do real,  somos ainda presenteados pelas brilhantes interpretações, sobretudo  do jovem River Phoenix e por uma cinematografia adulta, de subtis contrastes de luzes e de sombras.


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