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sexta-feira, 10 de maio de 2013

☑ DANS LA MAISON (2012), de François Ozon

Palavras escritas na casa do cinema

França (2012).
De François Ozon, com Fabrice Luchini, Ernst Umhauer, Kristin Scott Thomas e Emmanuelle Seigner
Mistério, Thriller. 105 minutos.


Adaptação cinematográfica da peça de 2006, do dramaturgo  espanhol Juan Mayorga, "El chico de la última fila", este filme de Ozon soube conquistar de forma elegante as  singularidades narrativas, que justificam uma análise autónoma, sendo no entanto curial, enquadrar a sua filiação teatral, em algumas vertentes analíticas ligadas não só à estrutura do argumento, como também à própria "mise-en-scène". E para além disso, é pertinente não esquecer a peça de Juan Mayorga quando se elogiar a criatividade do argumento !
Claude Garcia, de 16 anos, aluno do liceu, insinua-se no círculo familiar de um dos seus colegas de turma e escreve redações das suas experiências de observação e análise da família em causa, exercício estimulado e modelado pelo seu professor de Francês, Germain, um escritor frustrado.
"Dans la maison" (dentro de casa) não se resume à demonstração de uma  privacidade violada e manipulada e muito menos ao alimentar  gratuito de um instinto voyeur, que o cinema adulto, sabe contextualizar e disfarçar  nas subtilezas e nas entrelinhas  da sua própria linguagem. Ozon, vai mais além, propondo a desconstrução da própria ideia da narrativa, que neste filme, é sedimentada  em camadas  - o desenvolvimento de um projecto literário dentro do filme, o aluno e o mestre, "a casa" e o resto - e alicerçada na relação simbiótica entre a linguagem literária e o cinema, numa dinâmica de leituras cruzadas, como se  estivéssemos perante um complexo jogo metalinguístico bi-direccional.
O argumento entra em tom declaradamente irónico na  comédia de costumes, com alvo preferencial na classe média e pelo seu ritmo particular, cedo é embebido de elementos de insinuação, ambiguidade e mistério, no que à superfície, se admitiria uma réplica do cinema de  Hitchcock, mas a ausência do elemento revelação, afasta-o consciente e decisivamente de uma estética "Hitchcockiana".
Um complexo quadro psicológico e social, tendo como pano de fundo, o eternamente inacabado diálogo entre a literatura e o cinema.

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